a entrega era assim - urgente. a cobrir toda a pele de terra fértil. poema que se adensa com o regresso a ti. neste tempo a engolir-nos os dias, no faz e desfaz entre as mãos, lençóis e vida. as vagas salgadas as vagas vagas e salgadas. no fluxo-refluxo duma maresia tornada possível. o corpo - promessa. o estirar, o enroscar. e tu lentamente lenta lentamente, entras em mim. no despertar do corpo nascem palavras - olhos, língua, boca - o sexo húmido na morna inquietude da entrega. dir-te-ia do rio; nessa maré a entrar mansa. no tempo de nos respirarmos. dir-te-ia outra vez, do silêncio. de quando estás tão longe para te abraçar. onde fica o espaço entre a carne e o sangue, que se deixa cair escorrendo apenas escorrendo escorre, na perpendicular da vida. era uma vez? não, eram uma vezes várias. a esquecer-me do espaço em que o meu corpo se atravessa no teu. quando me fazes falta e não o posso proferir em voz alta. [ todas as ondas que aqui rebentam, quando me lembro a cabermos na casa da pele, na do olhar ] a entrega foi assim - urgente, na metáfora do verso que cresce na tua boca, na minha. a respiração no parapeito da tua boca, formada de uma mescla de palavras. a sílaba do amor as raízes afundadas as raízes raiz na pele coberta pela terra húmida e fértil. a iludir o tempo dum poema dito incapaz.0 os olhos dobrados os olhos [ que queria que combinassem com o mar ] olho, a noite do corpo que é terra mar rio falho de convulsões sobre o que me suspende. um tudo-nada nesta noite dissonante que vem e me traz com ela até ti. em que quero conseguir-te [ mais ] dentro do poema.