sexta-feira, 27 de setembro de 2019
"Encosto-me ao teu calor como gato à luz do sol. Lambo-te devagar o dorso e cheiro-te os cantos do corpo, em busca dos odores que me confirmam a tua humanidade.
Gosto de esconder os lábios no côncavo do teu braço e tactear com a língua os teus lábios, roubando-te o sentido às palavras e recolhendo, um a um, os sons com que soçobras nos meus braços.
Afago o rosto na penugem que envolve a pele da tua mão, as veias em sulcos, os dedos cegos pelo meu corpo a encherem-no de arrepios frescos como brisas de verão.
Cerro os olhos nos teus e afasto-me rapidamente, de corpo agitado e orelhas em riste, sempre que alguma mosca entra no quarto."
A Empregada de Mesa, in "Fanny Ardant vem Jantar"
quinta-feira, 26 de setembro de 2019
Pic http://www.medioambiente.org/2012/04/el-calamar-luciernaga-de-azul-cobalto.html
Sparkling Enope Squid / Calamar Luciérnaga / Watasenia scintillans
This squid is the only species of cephalopod in which evidence of color vision has been found / Se cree que este calamar es el único cefalópolo con visión en color
sábado, 21 de setembro de 2019
domingo, 15 de setembro de 2019
sexta-feira, 13 de setembro de 2019
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
quarta-feira, 11 de setembro de 2019
LITANIA
Estava sentado numa sala anexa ao bloco operatório
e uma enfermeira passou com o teu útero num saco de plástico
transparente
Com o teu útero com a minha primeira casa e a de meus irmãos
ainda escorrendo sangue
Uma pequena construção toda em pedra
com divisões de tijolo e cal hidráulica
e janelas abrindo para o vale
Com o teu útero
Com a memória do pão depois de levedado e da tua saia comprida
cheia de farinha
Com a memória de uma gema de ovo
Com o teu útero
Com a memória de uns sapatos demasiado apertados
Com a memória do giz e do ferro a carvão e dos alinhavos
na minha alma antes de ser posta à prova
Com o teu útero
Com a memória de uma véspera de Natal das rabanadas e da aletria
e das águas que de súbito inundaram o soalho da cozinha
Com a memória agitada dessas águas
Com o teu útero
Com a memória de uma explosão de mimosas
Com a memória do cheiro a flor de laranjeira e a néroli
Com o teu útero
Que o anatomo-patologista dentro em pouco se encarregaria de
retalhar
com a lâmina do bisturi
Jorge Sousa Braga
Vou guardar as tuas mãos na paixão que tenho por ti,
mas não te posso revelar o meu nome, nem precisas de o saber.
Chama-me o que quiseres, dá-me um nome para que possamos amarmo-nos.
Aquele que tinha perdi-o no caminho até aqui.
Pertencia a outra paixão, e já a esqueci.
Dá-me tu um nome para eu poder ficar contigo...
Al Berto
terça-feira, 10 de setembro de 2019
Histórias Que Horror! Capuchinho Vermelho
Parece que é uma história antiga do norte da Europa, há adaptações de Perrault (século XVII) e dos irmãos Grimm (século XIX), mas há referências aqui e ali anteriores, todas as versões têm a mesma base:
• Uma menina com uma capa e capuz vermelho, inocente e que segue um caminho proibido para levar comida à avó
• Um lobo astuto que faz emboscadas à garota, come a avô e tenta comer a miúda
• Um caçador valente que resolve tudo na ponta da naifa
Toda a gente conhece!
Por partes:
ELA
A miúda é bronca, fartou-se de ser avisada para não ir para floresta, pelo que posso deduzir que está na adolescência com as hormonas aos saltos na chamada fase do armário porque a mãe ficou rouca de a avisar para não ir por aí.
Depois veste-se de vermelho que é uma provocação para qualquer macho, aqui está uma vez mais a prova que é a cor do demo.
Faz perguntas parvas (há milhentas anedotas) e de certeza que tem falta de vista a menos que avó seja daquelas mulheres de barba muito rija ao ponto de ser confundida com um lobo.
ELE
Tem fome, mas apesar da miúda ir com uma cesta de sandes de paio, torresmos, chouriças dá-lhe para comer a miúda mesmo, é lobo mas é burro.
Tem capacidades inesperadas, é um lobo falante, porque lhe indica caminhos errados, imita a voz da avó e responde, também é travesti porque gosta de se vestir com a camisa de dormir da velhota comprada na feira e de por o chailito pelos ombros.
Bruto quando come, conseguiu engolir a velhota sem a mastigar!
Os outros
A avó deve ser teimosa como o raio, apesar de estar doente fica em casa em vez de ir para a porta do Centro de Saúde de Madrugada ou no mínimo ligar para a linha Saúde 24.
A mãe se estava preocupada com a velhota não mandava a miúda, ia lá ela ou trazia a velhota para casa, mas no fundo acho que se queria desenvencilhar da mãe ou sogra, porque a uma idosa doente manda um cesto cheio de coisas que sobem o colesterol e a diabetes.
O caçador é uma besta, caçar tá quieto, aposto que não tinha nem licença nem aquilo era uma zona reservada à caça ou de caça associativa, mas entrar em casa alheia abrir a barriga de uma suposta avó e sacar de lá a avó propriamente dita, na boa!
Portanto:
A) a história é uma história de terror: uma miúda numa floresta tenebrosa, um lobisomem, uma idosa abandonada num ermo, um fulano com um facalhão!
B) a história é uma metáfora sexual, a mãe larga a miúda provocadora numa zona perigosa, o vermelho é a cor da tentação, a miúda é tenrinha, o lobo é um predador sexual mas um bocadinho totó, gosta mesmo de vestir lingerie vintage, também tem o fetiche de “comer” uma idosa e gosta daquelas cenas sexuais encenadas “Ahhh e tal que grande boca!”, o caçador é um desmancha prazeres.
C) a história pode ser vista num contexto socio politico e a mãe é trabalhadora precária sem direito a assistência à família e sem meios económicos para cuidar das crianças e dos idosos, a velhota tem a pensão mínima e não se consegue ir para um lar com esse rendimento, a consulta está marcada para daqui por seis anos, o caçador é um vigilante por conta própria que foi mercenário no Iraque o Lobo tem só fome e faz de tudo um pouco para se safar, não há resposta social para este conjunto de problemas porque todos os recursos são para a banca.
D) Num contexto religioso, a capa vermelha é pecado, o lobo o demo, a comida uma tentação, a avó em trajes menores outra tentação, o caçador é um arcanjo.
E) No ponto de vista vegano-ecológico: a capa da miúda é de lã reciclada tingida com bagas, o cesto é de vime e tudo o que lá vai dentro é sem glúten, sem lactose, biológico e sustentável, o lobo não é um lobo é um montanhista que foi privado de componentes para fazer o seu shampoo seco, a mãe tem uma horta biológica, o caçador é um artesão, a avó é uma anciã que ensina práticas ancestrais.
F) Num contexto reivindicativo, a miúda está a ser vítima de exploração infantil ou então trabalha para a Glovo, a mãe está a enriquecer com entregas ao domicílio sem recibos, o lobo foi despedido por comer as entregas e jurou vingança, a avó é uma sénior pouco activa e nem quer fazer comer, o caçador é segurança privado
G) Num contexto capitalista, a mãe e o caçador são empreendedores, a velhota é um nicho de mercado que tem uma propriedade que devia ter IMI agravado por causa da vista, o Lobo é um pauzinho na engrenagem, a miúda é uma “colaboradora”, depois há o clusters, os stakeholders, os estudos de mercado, os brandings e mais
Conclusões
Por fim Charles Perrault comia cogumelos selvagens e tinha alucinações com raparigas de capa vermelha perdidas nas florestas e facínoras hirsutos com dentições completas, escreveu isso, os manos Grimm era mais Schnaps em quantidades industriais, todas as histórias deles tinham estas cenas malucas.
Nota minha: Não é uma narrativa adequada a crianças, não me falem mal dos Pokémons e dos Hungry Birds!
Ana Porfírio
segunda-feira, 9 de setembro de 2019
domingo, 8 de setembro de 2019
sexta-feira, 6 de setembro de 2019
monachopsis
n. the subtle but persistent feeling of being out of place, as maladapted to your surroundings as a seal on a beach—lumbering, clumsy, easily distracted, huddled in the company of other misfits, unable to recognize the ambient roar of your intended habitat, in which you’d be fluidly, brilliantly, effortlessly at home.
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