domingo, 7 de janeiro de 2018

de: A sul de nenhum norte
quis regressar-te no peito, quando as paredes se transformaram em poemas, e o amor sabia ao contorno do teu rosto na minha almofada / às pernas entrelaçadas debaixo dos lençóis / à casa construída de palavras dependuradas nos lábios entreabertos.
três ou quatro passos por dentro do tempo. a manhã a ser um lugar a habitar. a saudade engarrafada - bebida, gole a gole - a transbordar. um país habitado da frágil melancolia desenhada em sorrisos.
como anotações de um mapa
fundimos o tempo com a cidade
inventando assim uma fuga ao vazio

se formos pacientes
escolhemos uma a uma as memórias
que repetimos todos os dias
e se todas as fugas são biográficas
todos os regressos acabam numa rua sem ninguém

Maria (Lolita) Sousa






Deixas rasto no meu peito durante horas. Dou com
cabelos teus colados, dias depois, à roupa do meu sorriso.
Encontro nos vincos mais longínquos dos meus
dedos o cheiro parado do teu olhar tão móvel. Procuro-te
nas esquinas dos instantes que passam. Reconheço-te
no vinco que a ternura deixa na carne do peito do
meu olhar, aquele que deito para longe, para outra esquina,
de onde recebo mensagens de outro olhar igualmente
teu, igualmente meu, reflectido na montra de
uma loja do nosso sono.

Manuel Cintra



aqui, junto à minha pele e em mim, por dentro.
E as coisas que nos matam, incendeiam-se, cansadas de esperar por outro dia.

Manuel de Freitas


.
(...)
aprendi que o que dói às aves
não é o serem atingidas, mas que,
uma vez atingidas,
o caçador não repare na sua queda.

 Daniel Faria



Cat wantzzz milk, plizzzzzz!
amanhã vou afundar-me no outono
passar para além do reflexo do espelho
a palavra que se dissolve na respiração

onde está o coração? é como metáfora do
silêncio que ocupa o teu lugar

e eu estou no meio de um mapa de medos
a cruzar imagens para definir a estrutura da memória

Maria (Lolita) Sousa