terça-feira, 12 de junho de 2018

há um lugar em mim e um tempo onde a polpa dos meus dedos adquire a súbita tonalidade de silêncios. o tempo que fica entre o querer e o estender das mãos. o lugar em que se deixam cair em sonetos

des
   co
     nexos -

as mãos, sem saber onde se esconder do prazer, nestes dias a parecer uma enorme sala no debruçar das horas.
de novo, para não ensaiar palavras, há o lugar dos meus dedos

em
ti -

o tempo em que te digo que as mãos se merecem e os lábios se pertencem

[como os olhares],

 o tempo por detrás das palavras e que se torna insuportável, os dias a adormecer em maré vazia.

entre o sempre e o agora, a palavra

[a transbordar de ti]

mordida entre os lençóis.
é a vontade, a vontade do correr da água, do desvanecer do corpo que se ergue, da boca que se leva a outra boca

[do tempo que jurava voar quando solto dos teus lábios]

entre o sempre e o agora, o porém,

[que nos traz hoje os dias quentes da procura]

os dias em que nos revisitamos com uma nitidez que nos fere como fogo.

e de repente já não sei se somos nós que olhamos os afectos enraizados, se é o mundo que se propaga no teu abraço que é onde me reconheço.

[ e abraçamos os dedos - memórias de tempos de silêncio]


fechar o dia. o amargo a travar na boca o que não é entendível.  há um passar das horas no parapeito da vida que é cíclico

 [é a dor - raízes criadas, ramadas extensas]

deixar ir
deixar (-se) ir

underwater  flamingo
Stephen Fry 
please
( breathe in - 2013 )
Human Heart silkscreen
(Andy Warhol)