terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

ter uma guerra por dentro, o teu peito escrito no meu e os meus olhos a guardar segredos
Desvio dos teus ombros o lençol que é feito de ternura amarrotada, da frescura que vem depois do Sol, quando depois do Sol não vem mais nada... Olho a roupa no chão: que tempestade! há restos de ternura pelo meio, como vultos perdidos na cidade em que uma tempestade sobreveio... Começas a vestir-te, lentamente, e é ternura também que vou vestindo, para enfrentar lá fora aquela gente que da nossa ternura anda sorrindo... Mas ninguém sonha a pressa com que nós a despimos assim que estamos sós | David Mourão Ferreira
da maresia onde a memória fica entre um espaço e uma vírgula,
Trazias no peito a ferrugem líquida dos relógios. Arrancava-te as horas como pregos. Depois ficávamos deitados a observar os animais brancos. Não sabíamos nada. Não tínhamos nada. Apenas soprávamos a cana da loucura — e tremíamos. Vasco Gato
Your lungs fill & spread themselves, wings of pink blood, and your bones empty themselves and become hollow. When you breathe in you’ll lift like a balloon and your heart is light too & huge, beating with pure joy, pure helium. The sun’s white winds blow through you, there’s nothing above you, you see the earth now as an oval jewel, radiant & seablue with love. It’s only in dreams you can do this. Waking, your heart is a shaken fist, a fine dust clogs the air you breathe in; the sun’s a hot copper weight pressing straight down on the think pink rind of your skull. It’s always the moment just before gunshot. You try & try to rise but you cannot. Margaret Atwood
dialogue with absence _ Chiaru Shioya