quarta-feira, 25 de março de 2020

é o dia em hora cinza-prata, a impregnar-me das palavras segredos que envolvem o olhar. é o corpo que fica vazio, o medo que o invade em sossegos prolongados. é o coração que se encontra de costas.
deixei que fosses e os olhos, os olhos no bater das horas a transformarem-se em asas. [a lembrar os silêncios dos minutos amurados, os silêncios a morrer no que se fragmenta. a encontrar a outra metade, a respirar palavras com dicção do cheiro a pele]. dói-me o peito. esvazio-me nos segredos de uma pedra, que fala a língua do sussurro [quando os ventos não sabem dos pássaros] devagar abro o coração. arranco de mim a dor que enraíza no corpo a espera. as palavras que nunca escreveremos - entre nós - como se tudo fosse uma metáfora sem fim. [entre isto e um mar a perder de vista, a ponte entre o silêncio e o nada. daríamos sempre pelo mais pequeno engano. as águas de gestos confundidos onde nos afogamos, os gestos das súbitas espera, perdidos nos ruídos da manhã.] muitas vezes sinto nas mãos o calor do teu corpo inteiro. se fechar os olhos sinto-te dentro de mim. em vagas. sem me mexer. ardor nos olhos. os espamos dos músculos. o cheiro. o suor. as lágrimas. guardamos o sentido com a avidez do vazio, gaguejamos o segredo, língua a língua. [é a minha voz, é a tua?] nada existe - nada pode - nada prende, quando me lanço na tua pele onde respiro. contigo sou completa. contigo que sabes do ontem e do caminho que significa não nos ter em companhia nas horas perdida... e escrevo o lado quente das tuas mãos