sábado, 11 de novembro de 2017


não moro nas palavras que não sinto, quando tu vens a entrar no poema e eu passo o teu nome da minha boca para os meus olhos. quando dou a mão ao espaço que corre para nós.
contigo sou completa. sou céu e rio. sou o choro de todas as palavras que nos chegam fora do tempo. sou o tremor que nos invade o desejo, quando desapareces entre as linhas.

[a boca a escorregar no silêncio. o coração a saltar no peito]

todos os lugares são demasiado longe de ti
e eu quero ficar perto


( a Bica é linda )
abraçar as noites que entram por dentro da memória. rascunhos de mim, incompletos, atados ao inimaginável da sombra do que lhes escapa. a lonjura da pele permeável onde habitamos há demasiados séculos.

[saber como respirar, saber como silenciar o silêncio]

demora-se (n)a queda
desenha-se (n)a partida ao peito
descose-se (n)as noites não dormidas

[saber dos peitos que se confundem, saber dos gemidos que se desalinham]

trazer asas nos bolsos sempre que fecho os olhos e falar-te de voar. desabituar-me do penoso exercício do ensaio de palavras que escorrem em ternura. verter nas veias lágrimas, a memória dos teus lábios que sobrevive. acelerar o batimento dos dias enquanto se vendem os medos

[saber como silenciar a sofreguidão, saber como respirar a pele]

desengane-se (n)a vontade de inscrever nas veias
decomponha-se (n)o desejo de parar o rumor incessante do mar
desvanece-se (n)a pertença suspensa no fio do momento

[saber aprender a rendição do coração, saber esperar a deriva do corpo]

soletrar que sem ti as noites permanecem muito para além da escuridão, muito para além da palavra, do respirar do tempo, do beijar do silêncio no coração.