quinta-feira, 2 de novembro de 2017



(...)
se alguma coisa nasceu para voar
foi o teu coração.

Carlos de Oliveira


este poema começa com um homem 
na sua mesa de trabalho.

[os olhos fechados, mãos na cabeça – a inspirar profundo]

as palavras a surgirem na pele dos amantes, as historias que se esperam do ar, escritas com a saliva azul dos silêncios.

[fecha as mãos com a força de quem esquece que o mundo é de quem o diz]

era o tempo em que te bebia em tragos e dizia o teu nome, com a mesma certeza ao embarcar nos teus olhos.
o teu nome é mar, digo-te;
é rio
e
é
vento. desenhei-o com os meus dedos de arco-íris
era o tempo em que nos reconhecíamos, um no outro, pelo embate contra o nosso sopro e não pela distância que demora a apagar.

este poema que nos conta do homem que escreve, do ser transparente, e que só pode gritar-me por dentro da pele.

meu amor, sabes?
os poemas nascem das mãos que se dão.


da necessidade: correr livre com a felicidade nos pés
eis a distância a que estou - entre amar/te absurdamente e desaguar no descomprometimento
acreditei que acontecias dentro do meu corpo. enquanto o pouso devagar. engulo  as horas quando o corpo se vendeu à estrada. as horas em que pensava em ti e eu era aquele vento amurado na ternura. quando te respirava - deitada.

desisto
{dos silêncios que me apagam devagar o coração virado para o lado da tranquilidade}
sacudo
{ a culpa, quando as histórias adormecem com um sorriso na boca}
tentar
{chegar ao que está ali, no desalinho de todos os nomes, apagados mais perto do impossível}

preciso dum coração novo. a teu lado. no amor
que este está a parar, de tanto bater.