segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

nos dias em que se espera silêncio
soletro-te onde tudo o que não é palavra é pele

Maria Sousa


Quando um coração se fecha faz muito mais barulho que uma porta.

António Lobo Antunes

Tens duas hipóteses de olhar a gaivota à janela.
Ou a vês elevar-se no ar, asas abertas, repetindo a imagem de milhões de abraços, ou a vês descer à água e a despedaçar um peixe.
Sonhador das horas vagas, que não pediste conselho. Alterna e terás a realidade.

Lídia Jorge




como espremer as tristezas todas e (em vez de as incinerar)
fazer um belo chá com sabor a morangos e framboesas.

(por menina tóxica)

mais um dia mais uma viagem onde a menina bonita não paga mas também não anda se não canta a lenga lenga bem alinhada do bê-à-bá e o fungágá da bicharada

Bradley Soileau
dar nome à poesia


apostar o coração inteiro naquilo que somos. poemas corpóreos a existir na pele, a habitar o presente. a boca coberta de silêncio. o vento que se embala nas horas. 
quando te correm pelas mãos  as palavras dum tempo onde o desejo se sustenta no suave abandono do que nos define. 

somo-nos ...
e naufrago em ti
há lágrimas que não devem ser faladas. suspendem-nos em silêncios, que nos quebram o tempo em sentimentos escuros, oblíquos. escorre a vontade pelos recantos dos dias, a antecipar o naufrágio das palavras que se empilham, que se guardam, porque tudo se eterniza. não digas a ninguém, mas eu divido o medo por números, e assim posso esperar-te com os sonhos plantados à luz do dia.
sabes, um dia quero amar-te a limpo de tudo. um dia quero que os dedos varram o medo e que em sobressalto todas as forças construam as margens do sonho, me abram o poema duma vida que se carrega nas mãos.

sabes, um dia ...
a hora de estar feliz é o amor que sinto por ti, e que será meu para sempre.
habitar entre o sonho e o pesadelo, 
entre as marés e o ventos, 
o ninho e o húmus
e a solidão desenhada

[a dor, guarda-se na pele]

enquanto as mãos servem de máscara...

nos teus abraços ou nos meus? quando falo de ti aos meu sonhos, onde te sinto à distância de te estender a minha mão.



estou aqui a ser a tua ausência. pesas-me nos lábios como se nascesses de novo de uma metáfora antiga. as mãos abertas 

[as tuas, as minhas],

para conseguir-te mais dentro do vento a atravessar a pele.

[ é a água que sai do corpo e é um rio, é o teu nome, a memória e as horas no desapertar do abraço]

dispo-me de ti numa língua que o meu corpo entende. apago a memória do agora, com as palavras a rasgar até ao osso. és o indicativo do verso que declino por dentro da pele, em fome e sede, no poema que nasce no céu da boca. do peito que fica cheio 

[é difícil o respirar] 

quando cravo os dedos 

[gastos]

 na escrita que irrompe voraz no teu corpo. escrevo a língua dos vocábulos, a sílaba do amor quando o verso cresce nas paredes do poema. para conseguir-te mais dentro - do poema

Um homem diz coisas lindas e românticas sobre a reprodução sexuada nas plantas com flor com coisas como esta:
the calyx is the bride chamber in which the stamina and pistilla solemnize their nuptials
e depois ouve destas coisas:
"a man would not naturally expect to meet with disgusting strokes of obscenity in a system of botany (...) men or philosophers can smile at the nonsense and absurdity of such obscene gibberish; but it is easy to guess what effects it may have upon the young and thoughtless" (Smellie, on The sexes of plants )
ou
claimed it to be "repugnant and immoral"

Johann Georg Siegesbeck (german botanist)

se nem para o Reino Plantae há consenso
na sexualidade, como é que poderá haver entre os humanos?



Pio Vargas
A poesia faz-se contra o esquecimento?
Melhor seria dizer, contra a memória se faz a poesia.

Luis Quintais.


"O menor entre todos os gatos é uma obra-prima"

Leonardo da Vinci

[correr nas tuas veias...]




a noite é um telefone público.
uma voz que não atende.
um corpo que se agita no desassossego do meu.

Al Berto