sábado, 12 de outubro de 2019

A Horse Made of Computer Keys, Babis Cloud
sabes, há alturas em que o meu peito se comprime. é o meu corpo a reagir à lembrança de te sentir deitado sobre o meu lado esquerdo, de te descobrir para lá das palavras - o meu peito, calibrado de certezas, de que me levarias para tão longe que nunca saberia como regressar. sabes, respirar por vezes é sufocante. como se violentamente o amor nos arrancasse o ar, nestas esperas reinventadas, onde nascem medos que nos acordam em ferida. sabes, as palavras que amam são as que rasgam. e tudo o que existe se suspende nesta noite que rompe em silêncios. onde soletro lentamente, com o meu corpo, o teu nome
uma vez, era uma vez uma história cheia de regressos. dum corpo aprisionado na nudez, pela inquietação que o percorre em palavras que ecoam na dor. trezentos e sessenta e cinco tempestades, beijos e sonhos guardados nas mãos, a gritar que há toda uma vida para viver.
há mulheres que carregam por de dentro dos olhos os beijos entre beijos, a morrerem no avesso da espuma dos dias. as mulheres com a ternura a aflorar à boca, em cada sílaba invisível dum poema feito mar e vento [à margem dos dias, a desaguar no céu inteiro]. as mulheres e o poema. a trocar de pele nos dias que são alimento - aflorar à boca a subtileza das mãos que se tocam, a desprender-se o músculo que separa o tempo. as mulheres com desertos por dizer...sem saber como silenciar a sofreguidão, nem como respirar a pele
cometesse o amor e é-se punido declinam-se espaços abandonados com a memória dos medos [é difícil o respirar] ficam as lágrimas no côncavo das mãos e o silêncio onde se ama. [é no coração que a morte habita] a vida a deixar-me num improviso contínuo [meio corpo debruçado] entre os gestos, já parados