segunda-feira, 7 de outubro de 2019

gota a gota [es] corre a vida
é madrugada. devagarinho esperei, meio corpo debruçado sobre a vida inteira, que o poema surgisse. que a distância do meu corpo às horas impossíveis fosse o grito que antecede o fim - ténue. na pele, reverbera a memória que arde quando penso o tempo, desaprendidos os [meus] vazios na tentativa do sonho. os medos devorados pelas veias devastadas no fluxo dos [teus] olhos. esperei, meio corpo debruçado sobre o amanhecer contínuo, a vida que me deixa sempre num improviso - no côncavo das mãos, no sopro ao meu ouvido. um dia, [meio corpo] debruçada sobre o futuro, confundirei pele e água, ritos e acordares contigo nos lábios. olharei a vida, em que me debruço [meio corpo] entre os silêncios de gestos parados. [meio corpo], debruçada no percurso esperado, vou escrever-te todos os amanheceres, todos os abraços que me deste ao vento, todos os sorrisos atabalhoados de emoções. tudo o que desaprendi no eco da minha garganta - em cada palavra, o teu nome respirar - todos os dias, tantos dias, um dia [este dia] vou amar-te sempre e escrever para dentro de ti a anatomia do silêncio.