sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

"o que somos nos outros, é um pensamento que não se deixa aprisionar? é a história que não resiste ao calor? será sempre do tempo que vem a dúvida e de como aprender os silêncios,"

devagarinho esperei que o poema surgisse onde a memória fica

[procurou a mão dela com a sua e, deixou-a cair sobre a palma estendida - cerzida na pele com a coerência de estar cheia, assim de ti, sacudidas as conversas, com gestos de ternura]

olha aqui no meu bolso – mostrei-te – uma palavra, todos os meus sonhos. do teu peito no meu a atear-me as cicatrizes. do tempo que não deve ser forçado mas apenas desejado.


Dou-te o que não tenho – a história
de um rio exultante a explodir na boca em versão romântica,
poema sem trágicos sulcos ou fala completa. E tu, tu dás-me
o que sou: metáfora doendo-se alto onde acaba o texto.

Ana Marques Gastão