quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

é amargo o coração do poema que se escreve de desejo
ao cair da noite
tal como amargo é o sangue que nunca para de correr
nas mãos que desenharam caminhos nas veias
a minha mão esquerda, que em cima solta as estrelas 
por de dentro dos teus cabelos.
e, em baixo, a outra
a que se enlaçada na tua
(onde começa uma e acaba a outra?)

sinto a tua pele a fertilizar a escuridão 
feita de amargo. Amargo, amargo, o sangue,
do saber-te por perto a escrever-me o mundo todo.

(a respiração? como sempre, síncrona)

apenas 
flutuo










O Outono come a sua folha da minha mão: nós somos amigos.
Nós descascamos o tempo às nozes e ensina-mo-lo a andar:
o tempo retorna à casca.
No espelho é domingo,
no sonho dorme-se,
a boca fala a verdade.
O meu olhar desce até ao sexo da amada:
nós olha-mo -nos,
dizemos coisas obscuras,
ama-mo-nos como papoila e memória,
dormimos como o vinho nas conchas,
como o mar no clarão sangrento da lua.
Estamos abraçados à janela; eles olham-nos da estrada:
é tempo de saber!
Tempo para que a pedra resolva florescer,
para que um coração bata inquieto,
É tempo de ser tempo.
É tempo.

Paul Celan


"Érase una vez
un lobito bueno
al que maltrataban
todos los corderos.

...Y había también
un príncipe malo
una bruja hermosa
y un pirata honrado.

Todas estas cosas
había una vez
cuando yo soñaba
un mundo al revés.”

“Érase una vez” de José Agustín Goytisolo




come to my heart and pay no rent