segunda-feira, 30 de março de 2020

sem te saber perguntar pela ausência, descoses palavras na melodia dum instante. não te iria dizer que me provocas tempestades que se entranham nas crateras da pele.

quarta-feira, 25 de março de 2020

é o dia em hora cinza-prata, a impregnar-me das palavras segredos que envolvem o olhar. é o corpo que fica vazio, o medo que o invade em sossegos prolongados. é o coração que se encontra de costas.
deixei que fosses e os olhos, os olhos no bater das horas a transformarem-se em asas. [a lembrar os silêncios dos minutos amurados, os silêncios a morrer no que se fragmenta. a encontrar a outra metade, a respirar palavras com dicção do cheiro a pele]. dói-me o peito. esvazio-me nos segredos de uma pedra, que fala a língua do sussurro [quando os ventos não sabem dos pássaros] devagar abro o coração. arranco de mim a dor que enraíza no corpo a espera. as palavras que nunca escreveremos - entre nós - como se tudo fosse uma metáfora sem fim. [entre isto e um mar a perder de vista, a ponte entre o silêncio e o nada. daríamos sempre pelo mais pequeno engano. as águas de gestos confundidos onde nos afogamos, os gestos das súbitas espera, perdidos nos ruídos da manhã.] muitas vezes sinto nas mãos o calor do teu corpo inteiro. se fechar os olhos sinto-te dentro de mim. em vagas. sem me mexer. ardor nos olhos. os espamos dos músculos. o cheiro. o suor. as lágrimas. guardamos o sentido com a avidez do vazio, gaguejamos o segredo, língua a língua. [é a minha voz, é a tua?] nada existe - nada pode - nada prende, quando me lanço na tua pele onde respiro. contigo sou completa. contigo que sabes do ontem e do caminho que significa não nos ter em companhia nas horas perdida... e escrevo o lado quente das tuas mãos

terça-feira, 24 de março de 2020

o corpo. frágil na ternura do amanhecer, imita as horas em que o vento se escreve na pele. devagarinho esperei que surgisse um poema no planar das aves. é a brisa a escorregar por entre os dedos - todos os caminhos que vagueiam nas minhas mãos, são a imensidão do mar. vou amar-te para sempre, disse, vou esperar que o amanhecer me devolva o exemplo das águas. vou e ser

domingo, 22 de março de 2020

ficar viva abotoar de costas, um a um, os botões do seu corpo ditar inteiro o silêncio. as palavras escritas no seu olhar

segunda-feira, 16 de março de 2020

o tempo é a maré que leva e traz o mar às praias onde eternamente somos sabemos agora em que medida merecemos a vida* Ruy Belo
respirar-te a pele
alimento-me de histórias que se contam - em cada parágrafo uma sílaba, em cada olhar a respiração. alimento-me do silêncio que me rasga com unhas famintas, numa calma cheia de erros - a ternura nas palavras onduladas pela tua boca. peço sempre por favor em cada encontrão do vento, nas horas cosidas que demoram em voltar, quando digo que não existe o viver sem ti. abraça-me e diz-me que tudo o que se cola à pele rima com o medo. que a ternura é a tristeza do que não se entende e que do lado duro da dor são os dias que não se aceitam.. [por enquanto, permeável e transparente, sílaba a sílaba o medo a rimar na ausência] .

domingo, 15 de março de 2020

o teu corpo o teu sorriso o meu corpo enroscado no teu sorriso é a nudez coberta de memórias [permitir que o destino nos encontre, nesta noite que me brilha nas mãos] o meu corpo. frágil na ternura do amanhecer, imita as horas em que o vento se escreve na pele. devagarinho esperei que surgisse um poema no planar das aves. é a brisa a escorregar por entre os dedos - todos os caminhos que vagueiam nas minhas mãos, são a imensidão do mar. vou amar-te para sempre, disse, vou esperar que o amanhecer me devolva o exemplo das águas. vou... e ser.

sexta-feira, 13 de março de 2020

a lembrar os silêncios dos minutos amurados, os silêncios a morrer no que se fragmenta. a encontrar a outra metade, a respirar palavras com dicção do cheiro a pele. dói-me o peito. esvazio-me nos segredos de uma pedra, que fala a língua do sussurro [quando os ventos não sabem dos pássaros] "e há restos de ti nas palavras que me povoam..."
hoje é sexta-feira. hoje [por enquanto] permanecem os estilhaços sob a epiderme. a cada sexta-feira o medo rima com a ausência e há uma fraqueza a querer ser poema. trago no peito um coração que sangra nos vazios por preencher. respiro solidão e responde-me o silêncio, quando a aflição se faz amante da desordem do amor. hoje é sexta-feira e respiras-me o meu nome. tudo está igual, permanece o toque na pele e o teu cheiro, o teu olhar a transpor-me todos os silêncios é o pesadelo a desarrumar-se em conforto é o coração a bambolear-se em saudade é o pânico feito noite na esperança duma vida em retalhos é o vento tricotado em amanheceres contínuos é o corpo dentro do sonho por hoje ser sexta-feira é o tudo e é o nada. percorro o meu destino quando que dizes que me amas]

quinta-feira, 12 de março de 2020

poderia dizer-te que quando chegas com a lua no peito, por dentro do coração rebenta uma anarquia rítmica. o sangue sacode-se em vocábulos e preenche-se no indizível do vazio com gestos de ternura. poderia dizer-te que as mãos seguem pela água e pelos dias, percorrem o destino dos silêncios sem pressa na espera, sem horário de volta. acendes o cigarro e eu procuro-te a vontade lenta dos beijos ao longo da pele, do molhado das palavras quando me dizes que me amas. és a brisa, o mar e o céu onde nascem poemas, quando me sopras do meu lado esquerdo. e eu sou este destino, com a boca a saber a noite.
queria dizer-te. e não o disse. com o olhar de quem sabe que o ontem é para lembrar com um sorriso, e para desejar na vontade. porque me cantaste doçuras da pele, sem pressas [vou de encontro ao teu prazer. tu, vens de encontro ao meu] dizer-te. com as palavras para lá das palavras. que a vida é cheia de escolhas e que a pele serve de céu ao coração.

terça-feira, 10 de março de 2020

e eram os teus olhos, [esse lugar estranho, a fazer o coração disparar] eram todas as palavras que te escrevi, que erraram a pele [no avesso da memória] e era o teu sorriso onde queria ficar nua e tua até à ultima gota de sangue.

segunda-feira, 9 de março de 2020

quando o coração acorda, e a memória também. quando o corpo é a linguagem silenciosa dos verbos conjugados no presente. acreditar que o dia não começa nem acaba, sem te trazer dentro de mim. [os dedos entorpecidos, que não parecem feitos à medida das palavras que brotam instantes na tua voz / a adivinhar ecos / a tactear sinais.] o tropeçar em beijos, demasiados, desmesurados. assim parados. abraçados - o coração tresloucado quando me cravas as mãos e fico ancorada em ti, a parir ilhas dos dois, minutos antes de a maré encher.

domingo, 1 de março de 2020

(_tremer_no_desfolhar_dos_teus_dedos___respiro_a_turbulência_da_vontade_como_se_fosse_sangue_do_teu_corpo___quando_no_regresso_nascem_as_palavras_que_constroem_a_cadência_dos_poemas_que_escreves_em_mim___)_____
repost às mães que nos faltam às mães que nos vão faltar a solidão e o silêncio - palavras que não te ancoram à realidade. que escrevem naufrágio nas decisões conjugadas. quando ainda há futuro em cada gesto, quando o coração sem verdade se encosta na expressão da noite. há as marés que nascem do teu olhar, das tuas mãos { que sabem a abraços } e aquietam a pele. sou daí, desse lugar estranho que é o amor, que é quase apenas um pressentimento do nosso desassossego {da nossa cumplicidade que é uma mão que se enviesa no limite das palavras}. entre a saliva e o sangue há, de certeza, muitas viagens sofridas no interior da antecipação, que é ter dos afectos o logro da inocência. o meu corpo e as palavras que dançam por entre silêncios e a solidão, que escrevem um sono que ambiciona o fim { somar à vida o sabor do futuro apalavrado }. e um dia, descobre-se algo dentro de nós, a verdade distorcida de quem somos - e dói - enquanto se suspende a respiração como se a vida já não nos pertencesse, como se o atalho mais curto para o destino se quebre, por fim, na possibilidade do regresso. o coração, que se detém no que não acontece, quando te trago tão longe daqui. o pulso, onde os dias se estrangulam em regressos. as linhas das mãos, onde se escrevem as coisas por nomear. { se eu não tivesse esta mania irritante de que tudo pode ser mais simples, e de que o recomeço é o ensaio de coisas por nomear}