terça-feira, 31 de outubro de 2017

falo-te: das palavras vindas das vísceras, presas a fios muito finos de silêncio

[adicionava-lhes por entre vozes e dedos, o ar e a água dentro do coração dos pássaros, as histórias reinventadas em gestos e pedaços de amor]

digo-te: agora tenho medo. e tremo por entre lençóis com o cheiro do tempo da tua desordem.
por dentro de mim: o balanço das feridas, quando estou nua perante o mundo, quando silencio a vontade de te ver. quando vês mar e vento eu digo que cheira ao futuro dos dias
é a pele que se rasga. são os rios que se tatuam por entre as linhas das minhas mãos

[ a geografia dos ossos revelados à pele]


estou aqui e serei o teu alimento
estou aqui e quero despedaçar-me
naquilo que amo.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

talvez seja o entardecer dos meus gestos no teu rosto. talvez sejam as minhas emoções a repousar no regresso dos dias, no interior das coisas mais líquidas.
queria tanto dizer-te que aqui se inventa o mar de volta, que se inventa o partir, para um regressar. que não foi por acaso que as noites ficaram mais claras quando me lembro de cada lágrima, de cada abraço, do sonho presente na nudez da insistência do teu corpo no meu.

[ também nos rios a saciar-me a sede, em cada inundação ]

partir, partir, aqui, para ficar. no planar das aves, na fragilidade da existência. no percorrer da água nos dedos. e depois?
é a brisa a escorregar entre os dedos para uma nova manhã...
é a imensidão do mar a asfixiar-me em infinito...

ser [ linha curva]
só   [ último fôlego]
existir.

e a fuga para o sonho seria apagar a memória do agora.


domingo, 29 de outubro de 2017

When there´s no more room in hell the dead will walk among us!


ficarmos suspensos - entre o olhar e a memória.

[ afogar-nos nas águas onde decorámos as ondas ]

permanecer em nós 

[iluminar os silêncios o que sonhámos calados]

e finalmente percebemos

que é possível caber, no interior de nós, a quatro mãos.




sábado, 28 de outubro de 2017

desfocar-te
com os dedos que escrevem linhas rectas. a direcção dos sonhos a adivinhar-se
e à mão afigura-se o que se pretende.
sobre a textura da pele, agarram-se futuros,
acende-se o lume do mundo do que se propaga - os sentimentos, medidos palmo a palmo.
quando o silêncio não é mais
do que a pausa da tua respiração
não é mais do que o verbo desfocar, nasce um poema raiz entre os meus e os teus olhos.

respira ação. quando os pulmões ganham gestos vegetais e gritam ao mundo: fotossinto-te

abraça-me. para quando a manhã crescer dos teus braços, se apague o medo com o chilrear dos pássaros.