quarta-feira, 8 de novembro de 2017


in Contos do Gin-Tonic
de cada vez que digo: há um poema nas palavras que não se importaram em pensar-te enquanto te espero. que escrevem o teu nome. há um poema nos labirintos traçados, devagar, sobre a pele. no desmembrar dos silêncio. nos olhos como margens do mar em que nos afogamos.

[são palavras que sopras entre as pálpebras?]

ainda há pouco dizia:  a boca que deixas cair tão cheia de vento. que se despenha no meu peito. a boca onde me deposito, abandonada, como um pássaro de fogo.

 [os dedos alinhados, o ar da tua boca quando te respirava]

queria ter dito: entre nós o tempo desenha-se assim, devagar. sem o nome da pressa. inverte-se o gesto do peito rasgado pela vida. paramos de falar, o ar a faltar... é o mar onde cabem todos os caminhos dos sonhos. morro-me no grito quando as tuas mãos queimam o sangue, quando se passeiam em mim dessa maneira. sinto-o nas veias, o precipício do corpo urgente - pela carne e pelo peso.

 [demora as mãos um pouco mais]


e é sempre a primeira vez que os gestos acontecem, a sul dos olhos que descobrem.


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

vou de encontro ao teu prazer. demoro-me no teu corpo, onde me enuncio para lá dos teus dedos - és o meu lugar encontrado, neste tempo sem tempo.
sorrio-te: a minha boca, a desenhar os pensamentos.
sussurras: com os dedos que me desenham o corpo, longos braços de rio, que alcançam as minhas margens.

[a minha boca a saber a ti, a tua boca a provar-se em mim]

amamos com a pele, com as entranhas e com as vísceras e com todo o sangue que nos corre nas veias.

e é assim, devagar devagarinho  - entras-me.




amar em tempo de poesia, é tudo conjugar - do hoje para amanhã, da esperança em suspenso para vida, do medo para o encantamento. a imprevisibilidade absoluta do movimento dos corpos
sabes, amar é cada abraço que contém em si mais beleza do que toda a filosofia do mundo. foi o teu que te amarrou à minha vida para sempre. e com ele todos os fios de escuridão do mundo desapareceram.


domingo, 5 de novembro de 2017

entre o sempre e o agora, a palavra (a transbordar de ti) mordida entre os lençóis.
é a vontade, a vontade do correr da água, do desvanecer do corpo que se ergue, da boca que se leva a outra boca, do tempo que jurava voar quando solto dos teus lábios.
entre o sempre e o agora, o porém, que nos traz hoje os dias quentes da procura, os dias em que nos revisitamos com uma nitidez que nos fere como fogo.
e de repente já não sei se somos nós que olhamos os afectos enraizados, se é o mundo que se propaga no teu abraço que é onde me reconheço.

e abraçámos os dedos - memórias de tempos de silêncio.

sábado, 4 de novembro de 2017

... tudo começou, em Janeiro - o bater veloz de um coração. a poesia que esvoaça no vento e que se ama. a minha voz a inventar a insignificância da arritmia das palavras.
surgiste e escreveste a tua língua, na minha pele.
disse-te: era uma vez, o respirar dos dias

[ por dentro. no avesso do corpo],

marcados pela vertigem da saudade.
sorriste e abriste os braços

[o tremor de dentro do mundo a escrever as horas nos teus olhos].

disseste-me: era uma vez...

e em silêncio deste um nome ao sonho, a abrigar todas as palavras que revestem a minha imaginação.

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(HardRock Café, Lx, 14-01-2017)