atropelamento
Quando eles dizem
"morreu rebentada por dentro"
querem dizer
que o coração se moveu do esquerdo
ao lado direito do peito
que o impacto se sentiu no pulmão
onde o coração entrou e ficou escondido
palpável à língua
Que o fígado acidulado por um último jantar
se lançou em espuma contra as costas
e negra da noite ao avesso
a caixa torácica perdeu o abaule
o orgulho
as flores como pétalas de osso quebraram
por todo o dentro de cinco sentidos
Em todo o caso o corpo
ficou incólume
sentado na estrada
desviado apenas do lugar
onde esteve o baque da alma
Andreia C. Faria, in Flúor
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
Disseste-me: ainda estás a tempo de fugir. sorri e, abrindo as mãos, ofereci-me a ti. amar-te é perder-me, disse-te, é encontrar-me no teu abraço, é desistir dos silêncios que me têm povoado os monossílabos que não dizem mar.
Disseste-me: se respirares o meu nome, transponho todos esses silêncios. olhei-te, e a três passos de ti disse-te, com os olhos no vento, que o teu sorriso desagua nas minhas mãos neste amanhecer contínuo.
Disseste-me: não sei onde irei guardar os meus segredos, mas preciso da tua pele para escrever um poema de amor.
Disseste-me: se respirares o meu nome, transponho todos esses silêncios. olhei-te, e a três passos de ti disse-te, com os olhos no vento, que o teu sorriso desagua nas minhas mãos neste amanhecer contínuo.
Disseste-me: não sei onde irei guardar os meus segredos, mas preciso da tua pele para escrever um poema de amor.
domingo, 17 de dezembro de 2017
a solidão e o silêncio - palavras que não te ancoram à realidade. a escreverem naufrágio nas decisões conjugadas. quando ainda há futuro em cada gesto, quando o coração sem verdade se encosta na expressão da noite - há as marés que nascem do teu olhar, das tuas mãos
{ que sabem a abraços }
e aquietam a pele.
{ que sabem a abraços }
e aquietam a pele.
sou daí, desse lugar estranho que é o amor, não mais e apenas um pressentimento do nosso desassossego
{da nossa cumplicidade que é uma mão que se enviesa no limite das palavras}
entre a saliva e o sangue há, de certeza, muitas viagens sofridas no interior da antecipação, de ter os afectos
{da nossa cumplicidade que é uma mão que se enviesa no limite das palavras}
entre a saliva e o sangue há, de certeza, muitas viagens sofridas no interior da antecipação, de ter os afectos
o logro da inocência. o meu corpo e as palavras que dançam por entre silêncios e a solidão, e escrevem um sono que ambiciona o fim
{ somar à vida o sabor do futuro apalavrado }
e um dia, descobre-se algo dentro de nós, a verdade distorcida de quem somos - e dói - enquanto se suspende a respiração como se a vida já não nos pertencesse, como se o atalho mais curto para o destino se quebre, por fim, na possibilidade do regresso.
{ somar à vida o sabor do futuro apalavrado }
e um dia, descobre-se algo dentro de nós, a verdade distorcida de quem somos - e dói - enquanto se suspende a respiração como se a vida já não nos pertencesse, como se o atalho mais curto para o destino se quebre, por fim, na possibilidade do regresso.
o coração, que se detém no que não acontece, quando te trago tão longe daqui.
o pulso, onde os dias se estrangulam em regressos.
as linhas das mãos, onde se escrevem as coisas por nomear.
sábado, 16 de dezembro de 2017
estou aqui a ser a tua ausência. pesas-me nos lábios como se nascesses de novo de uma metáfora antiga. as mãos abertas [as tuas, as minhas], para conseguir-te mais dentro do vento a atravessar a pele.
é a água que sai do corpo e é um rio, é o teu nome, a memória e as horas no desapertar do abraço.
dispo-me de ti numa língua que o meu corpo entende. apago a memória do agora, com as palavras a rasgar até ao osso.
és o indicativo do verso que declino por dentro da pele, em fome e sede, no poema que nasce no céu da boca. do peito que fica cheio [é difícil o respirar] quando cravo os dedos [gastos], na escrita que irrompe voraz no teu corpo.
escrevo a língua dos vocábulos, a sílaba do amor quando o verso cresce nas paredes do poema. para conseguir-te mais dentro - do poema.
é a água que sai do corpo e é um rio, é o teu nome, a memória e as horas no desapertar do abraço.
dispo-me de ti numa língua que o meu corpo entende. apago a memória do agora, com as palavras a rasgar até ao osso.
és o indicativo do verso que declino por dentro da pele, em fome e sede, no poema que nasce no céu da boca. do peito que fica cheio [é difícil o respirar] quando cravo os dedos [gastos], na escrita que irrompe voraz no teu corpo.
escrevo a língua dos vocábulos, a sílaba do amor quando o verso cresce nas paredes do poema. para conseguir-te mais dentro - do poema.
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