sábado, 27 de janeiro de 2018



Eu, se fosse gajo, escrevia poemas. As mulheres gostam de poetas. Acham que dentro da pele do poeta mora um cabrãozito com emoções. As mulheres gostam de emoções, mesmo que não rimem. Podem ser emoçőes em haiku. E gostam de cabrõezitos, claro.
Às mulheres não bastam as suas emoções. Precisam de ser o motor das emoções dos outros. As mulheres saem em bandos ou solitárias, pelos caminhos, para vampirizar emoções. Se não o fizerem, encarquilham quando o sol se põe. Desfazem-se em pó de esquecimento que é o pior que pode acontecer a uma mulher. É por isso que elas dizem: nunca mais te vais esquecer de mim! E é por isso que elas gostam de pensar que se morarem num poeta e se morarem no poema compram a eternidade.
E um homem até as pode deixar de amar, mas desde que seja com metáforas.

Maria Belo



sexta-feira, 26 de janeiro de 2018



- Gosta de poesia?
- Eu respondo com uma imagem saborosa. É como arroz, depende da maneira de o fazer. Posso gostar muito. Há um certo tipo de arroz que eu adoro, como se faz no Porto, por exemplo, que é um arroz a fugir, com bastante líquido, com estrugido, que aqui em Lisboa se chama refogado, com estrugido de cebola, com temperos muito bons, e depois sempre com qualquer acrescento de vegetal ou também de animal, especialmente do mar, por exemplo, arroz de polvo. À maneira do Porto é, de facto, delicioso, porque escorrega, não é? As coisas que nós comemos começam por ser deliciosas e são deliciosas até ao fim na boca, escorregam. Com poesia é exactamente a mesma coisa, tal e qual, não faz diferença nenhuma.

( parte de entrevista de Alberto Pimenta no início de ano nos Jogos Florais)


"Life should not be lived without love" - Serge Gainsbourg

Inger Christensen
Tudo desde sempre. Nunca outra coisa. Nunca ter tentado. Nunca ter falhado. Não importa. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor.(...)

Samuel Beckett

Uma criança disse: «Um anjo é uma gaivota.»
«Um anjo é um homem como os outros: o que é, tem asas.»
E outras: «Um anjo é um pássaro cantador.» (...)
Crianças trespassadas pela sua própria exactidão. (...)

A solidão que trespassa uma criança imóvel é uma luz insuportavelmente branca.

Herberto Helder

(Marcelo, 3 anos)