a Primavera já anda por aí 

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cry me a river

Paul Celan

ÚLTIMA TENTAÇÃO

E então ela quis tentá-lo definitivamente. Olhou bem em volta, com extrema atenção. Mas só conseguiu encontrar uma pêra pequenina e pálida.
Ficaram os dois numa desesperante frustração.
Não há dúvida que o Paraíso está a tornar-se cada vez mais chato!

in Contos do Gin, Mário – Henrique Leiria

é preciso muito caos interior para poder
parir uma estrela que dança

Friedrich Nietzsche

digo - o amor. digo - a pele por que me apaixono, a turbulência do corpo que respiro.
digo - palavras, o poema em que me desnudo. o encantamento dos gestos em que me perco.
é deixar em ti muito mais do que aquilo que permito perceber.

sabes, há alturas em que o meu peito se comprime. é o meu corpo a reagir à lembrança de te sentir deitado sobre o meu lado esquerdo, de te descobrir para lá das palavras

[o meu peito, calibrado de certezas]

de que me levarias para tão longe que nunca saberia como regressar.
sabes, respirar por vezes é sufocante. como se violentamente o amor nos arrancasse o ar, nestas esperas reinventadas, onde nascem medos que nos acordam em ferida. sabes, as palavras que amam são as que rasgam. e tudo o que existe se suspende nesta noite que rompe em silêncios. onde soletro lentamente, com o meu corpo, o teu nome.