terça-feira, 6 de março de 2018



。Dioptase specimen from the Tsumeb Mine
Ana Caeiro ( blog _ do lado esquerdo)

D&G



Eugénio de Andrade

segunda-feira, 5 de março de 2018

Eraumavezumcontoquesejuntoutodoparaseaquecereprotegerdofrio.

Nano-contos

praise the moustache
praise the one


não tenhas medo. hoje sei reconhecer o perfil das árvores e os seus cabelos mil tons de verde, sei ouvir os sons da terra e trago na pele a respiração de todas as marés. dormi muito tempo debaixo de luas incendiárias e aprendi todas as línguas do silêncio. não tenhas medo. cai o pano e eu deixo que recolha aplausos e flores. não me interessa. porque hoje já lhe consigo sentir, como nunca senti, o cheiro a longe; muralhas de vento e veludo vermelho a estrelar. cheira assim todos os dias, antes e depois do banho, feliz ou infeliz. cheira a leite coalhado e a locais de abandono. deve ser por isso que preciso tanto que me deixe onde escolhi morrer. não tenhas medo. hoje sei que há abraços que são falsos domingos e que as orquídeas sorriem como agiotas. e as palavras, espessas e transparentes, escorrem no tempo sem tempo, afogam-se entre os dedos, debruçam-se em declives, como se fosse âmbar ou certos poemas de onde nunca ninguém gostaria de sair para ver como são do outro lado. o problema é esse; a convicção de que existe outra morada habitada e o pior é que temos razão. não tenhas medo. o mundo não precisa de reinícios, só de silêncios em torno de si.

(Ana na Tarte)