terça-feira, 20 de março de 2018

estremeço desde o princípio do meu rosto
desde o momento em que sorri e me sorriram
e é nesse lugar ínfimo que suspendo todas as palavras
que fecho os olhos e sinto a frescura de todas as águas
o oceano que cessa e atende o esvoaçar da primavera

é a primeira primavera de todos os outonos
é aqui que em silêncio se bordam os calendários
dias entre dias e sobre dias e as memórias que escapam
e não mais se alcançam se não nos tornamos menores
– no futuro não há esquecimento nem segredos
cada coração guarda apenas o que for mais comum

Vasco Gato

Ruy Belo, in "do lado esquerdo"
dioptase

segunda-feira, 19 de março de 2018

(_os_corpos_a_ferir_poesias_ fluidos_às_cores_os_corpos_nítidos_imundos_exsudados_os_corpos_confusos_desaparecidos_já_dos_corpos_sem_cogitar_os_corpos_poesias_em_cima_da_pele_e_das_peles_sem_pausa) _sem_pausa____ ) sem_pausa_________ )

Margarete
As palavras aproximam:
prendem-soltam
são montanhas de espuma
que se faz-desfaz
na areia da fala

Soltam freios
abrem clareiras no medo
fazem pausa na aflição

Ou então não:
matam
afogam
separam definitivamente

Amando muito muito
ficamos sem palavras.

Ana Hatherly

escreveu-me um beijo e pediu
ao coração independente
que não deixasse de bater.
prometo que não deixo.

Amália, Coração Independente
não moro nas palavras que não sinto, quando tu vens a entrar no poema e eu passo o teu nome da minha boca para os meus olhos. quando dou a mão ao espaço que corre para nós.
contigo sou completa. sou céu e rio. sou o choro de todas as palavras que nos chegam fora do tempo. sou o tremor que nos invade o desejo, quando desapareces entre as linhas.

[a boca a escorregar no silêncio. o coração a saltar no peito]

todos os lugares são demasiado longe de ti
e eu quero ficar perto.

(19 de Março de 2017)