quinta-feira, 19 de julho de 2018

 #limparosalãodebaile

o único modo de escapar ao abismo é observá-lo, e medi-lo, e sondá-lo e descer para dentro dele.

Il Mestiere di Vivere,  Cesare Pavese
em todas as partes
pulsa(-nos) o coração
Tutorial para a não necessidade de Médico Veterinário: basta seguir as instruções abaixo
ATENÇÃO:

Esta publicação é para os tutores de animais de companhia
Vou te contar o que o seu veterinário NUNCA te contou (e nem vai contar...)
A GRANDE VERDADE é que tudo o que você PRECISA para curar o seu animal pode ser encontrado na Internet.
Não precisa perder seu tempo e dinheiro indo ao veterinário e eu vou agora te ENSINAR TUDO...

Então lá vai: para você conseguir tratar o problema do seu animal de estimação pela internet com o MÍNIMO de eficiência , basta conseguir ALGUMAS POUCAS INFORMAÇÕES antes de digitar a sua busca no Google.

Pegue um lápis, uma folha de papel, busque o seu bichinho e anote as seguintes informações:

1. observe se a dor é difusa, localizada, aguda ou crônica;

2. obtenha a medida da temperatura retal;

3. ausculte a cavidade torácica observando estertores (secos ou úmidos) e principalmente sinais de edema;

4. aproveite a proximidade e ausculte o coração em busca de arritmias e sopros (importante você anotar se é sistólico ou diastólico).

5. sinta o pulso e anote as particularidades encontradas;

6. proceda uma palpação abdominal procurando borborigmos, espessamento uterino ou sensibilidade renal, presença de estruturas anómalas,;

7. observe as mucosas, classificando quanto à coloração e o tempo de repleção capilar.

8. não se esqueça dos reflexos pupilares (simpáticos e parassimpáticos, é claro.

9. se for um problema de pele, bem mais fácil, apenas classifique a lesão (diferencie entre pápula, vesícula, placa, nódulo, pústula, urtica, erosão, crosta, úlcera, comedo, eczema ou liquenificação)

10. se for possível, faça um raspado e diferencie sarcoptes, escabiei, ectorix e endotrix...

11. e por fim, colete no minimo 2 a 5 ml de sangue por punção venosa (pode ser na jugular, na bráquicefálica ou até na carótida... em gatos é bem fácil) e mande ao laboratório para analise diagnóstica das múltiplas relações entre os elementos do sangue (varia um pouquinho entre as espécies...)

Tudo anotado?
Óptimo, então, de posse de todos estes dados, pode iniciar a sua busca e BOA SORTE..


quarta-feira, 18 de julho de 2018

Algumas pessoas vendem o seu sangue. Tu vendes o teu coração.
Era isso ou a alma.
A parte difícil é tirar a maldita coisa para fora.
Uma espécie de torção. Como abrir uma ostra,
a tua espinha, um pulso,
e depois, upa! Está na tua boca.
Viras-te parcialmente do avesso
como uma anémona do mar a cuspir um seixo.
Há um “plop”quebrado, o som
de vísceras de peixe a cair num balde.
E ali está, um enorme coágulo vermelho escuro
do passado ainda-vivo, a cintilar inteiro no prato.
Vai passando de mão em mão. É escorregadio.É deixado cair.
Mas também degustado. Muito grosseiro, diz um. Muito salgado.
Muito amargo, diz outro, fazendo uma cara.
Cada um é um gourmet instantâneo,
e tu ficas a ouvir isto tudo
a um canto, como um empregado de mesa recém-contratado,
a tua mão tímida e habilidosa na ferida escondida
no fundo da camisa e peito,
timidamente, sem coração.




Margaret Atwood

banquete poético

1
Acordei com as narinas a sangrar perfume
Como um santo quando acaba de morrer
E debrucei-me para dentro
Para encontrar o golpe no sono.
Encontrei uma mulher sentada entre os pássaros
Que quebrava vasilhas de barro.
Disse-lhe: bebe do meu sangue.
Ela rasgou-me as veias com cacos
E deu de beber aos pássaros.

2
Acordei também com os pássaros
E estudei a posição em que os bordava
Nos seus vestidos
E disse: para que lhes espetas a agulhas no coração
Ela respondeu: para que aprendam a direcção do voo.

3
Ela pôs-me o dedal sobre os olhos
Um vaso pequenino com que me ministrou o sono
Apagou em mim os instintos da caça.
Estou ferido nas narinas e nos pulmões,
Digo-lhe: sufoco.
Ela ordenou que os pássaros batessem as asas
E fez circular o ar.

4
Acordei dentro do poço
Do ar
E soube que podia respirar dentro da água
Porque a mulher estava cercada de peixes.
Disse-lhe: porque quebras aquários contra os joelhos?
Ela mastigava e não me respondeu,
Estendeu a mão e deu-me um vidro a provar

5
Trinquei o vidro e ouvi o coração da mulher estalar:
A mulher era uma ilha de todos os lados
Na sua força de um redemoinho parado

6
Ela sorveu-me o sangue, curou-me a boca,
Espetou-me um anzol na língua e puxou-me
As palavras
Foi então que pensei que ia morrer
Afogado.

7
Acordei dentro desse pensamento como um homem salvo
Com a boca cheia de búzios em forma de palavras.
Soube que era possível respirar dentro das palavras
Porque vi a mulher pôr as mãos sobre os ouvidos.
Ela estava no meu pensamento e tinha um pequeno tear.

8
E eu disse à mulher: destece-me
Até que alguma coisa me pense para dentro
Como se alguém me chamasse
Como se badalasse um sino ao redor
Dentro de mim.
A mulher pôs-se à escuta: perdi o fio — disse —
Dos teus novelos.

9
Assemelhei-me a um xilofone de silêncio
A um estrondo muito forte que só se ouvia bem em silêncio.
Gritei: então canta!
Ela pegou a minha tristeza e começou a dobrar.

10
Debrucei-me sobre a meada estreita, o estreito poço
E disse: é agora que vou descer.
Acordei no meio da descida e pensei:
Ah, quem dera a mulher lançasse a sua trança
A prumo.

11
A mulher lançou a sua mão
Eu estava na palma da mão
Eu era uma linha que se apagava
Uma linha que ninguém sabia ler.
Eu disse à mulher: Ah, fecha a mão
Para me guardares

12
A mulher guardou-me no útero
E eu vi quanta morte existe ao redor de quem nasce.
Perguntei à mulher: porque estás de luto?
Ela abriu o regaço e vi como nas fotografias do holocausto
Exatamente como nas manhãs depois dos terremotos
Cadáveres e cadáveres de peixes e pássaros

13
Acordei com os olhos comidos como um corpo depois de sepultado
E gritei para fora do poço: existe alguém desse lado?
Eu estava no fundo, eu estava morto e vi
Que os peixes e os pássaros
Ressuscitavam.

Daniel Faria, Poesia

Eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

Herberto Helder