quarta-feira, 24 de julho de 2019
« - [O que tenho?] - disse ele - Nada de especial. Tenho... um décimo de segundo a mostrar que não está pelos ajustes... Espere... Há momentos em que o meu corpo se ilumina... É muito curioso. De repente fico-me visível... distingo o fundo das minhas camadas de carne, sinto zonas de dor, anéis, pólos, coroas de dor. Está a ver estas figuras vivas?, a geometria do meu sofrimento? Alguns destes relâmpagos parecem realmente ideias. Fazem compreender - daqui até ali... E no entanto deixam-me incerto. Incerto será a palavra... Quando isto está para vir, acho qualquer coisa de confuso ou difuso em mim. No meu ser formam-se lugares... enevoados, parecem lonjuras. Apanho na memória uma pergunta, uma questão qualquer... E meto-me nela a fundo. Conto grãos de areia... e, enquanto os vou vendo... - A dor crescente obriga-me a examiná-la. Penso nela! - Só espero pelo meu grito... e, mal o oiço - o objecto, o terrível objecto, faz-se pequeno, cada vez mais pequeno, furta-se à minha visão interior...»
Paul Valery
Italo Calvino, "Seis Propostas para o Próximo Milénio", Editorial Teorema, 2007
terça-feira, 23 de julho de 2019
Meu querido útero. Estamos de relações cortadas. És realmente um empata, um chato, aborreces, dois-me, enfraqueces-me e estou farta de ti. E ainda não sei quanto mais tempo vou ter que te aturar e aos teus amigalhaços cumplices, esses patifes dos ovários... Sinceramente, aquela a quem resolveste massacrar nos ultimos tempos.
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