segunda-feira, 9 de março de 2020

quando o coração acorda, e a memória também. quando o corpo é a linguagem silenciosa dos verbos conjugados no presente. acreditar que o dia não começa nem acaba, sem te trazer dentro de mim. [os dedos entorpecidos, que não parecem feitos à medida das palavras que brotam instantes na tua voz / a adivinhar ecos / a tactear sinais.] o tropeçar em beijos, demasiados, desmesurados. assim parados. abraçados - o coração tresloucado quando me cravas as mãos e fico ancorada em ti, a parir ilhas dos dois, minutos antes de a maré encher.

domingo, 1 de março de 2020

(_tremer_no_desfolhar_dos_teus_dedos___respiro_a_turbulência_da_vontade_como_se_fosse_sangue_do_teu_corpo___quando_no_regresso_nascem_as_palavras_que_constroem_a_cadência_dos_poemas_que_escreves_em_mim___)_____
repost às mães que nos faltam às mães que nos vão faltar a solidão e o silêncio - palavras que não te ancoram à realidade. que escrevem naufrágio nas decisões conjugadas. quando ainda há futuro em cada gesto, quando o coração sem verdade se encosta na expressão da noite. há as marés que nascem do teu olhar, das tuas mãos { que sabem a abraços } e aquietam a pele. sou daí, desse lugar estranho que é o amor, que é quase apenas um pressentimento do nosso desassossego {da nossa cumplicidade que é uma mão que se enviesa no limite das palavras}. entre a saliva e o sangue há, de certeza, muitas viagens sofridas no interior da antecipação, que é ter dos afectos o logro da inocência. o meu corpo e as palavras que dançam por entre silêncios e a solidão, que escrevem um sono que ambiciona o fim { somar à vida o sabor do futuro apalavrado }. e um dia, descobre-se algo dentro de nós, a verdade distorcida de quem somos - e dói - enquanto se suspende a respiração como se a vida já não nos pertencesse, como se o atalho mais curto para o destino se quebre, por fim, na possibilidade do regresso. o coração, que se detém no que não acontece, quando te trago tão longe daqui. o pulso, onde os dias se estrangulam em regressos. as linhas das mãos, onde se escrevem as coisas por nomear. { se eu não tivesse esta mania irritante de que tudo pode ser mais simples, e de que o recomeço é o ensaio de coisas por nomear}

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

é súbita, a tonalidade de silêncios. o tempo que fica entre o querer e o estender das mãos. o lugar em que se deixam cair os sonetos desconexos - as mãos, sem saber onde se esconder do prazer, nestes dias a parecer uma enorme sala no debruçar das horas. de novo, para não ensaiar palavras, há o lugar dos meus dedos em ti - o tempo em que te digo que as mãos se merecem e os lábios se pertencem [como os olhares] o tempo por detrás das palavras e que se torna insuportável, os dias a adormecer em maré vazia.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Na fronteira da pele não há cães polícias. Era isso mesmo. Na fronteira da pele. Onde eu acabo e tu começas. Onde eu passo de pecado em pecado. Deixo tudo e atravesso. Passo a linha e perco a calma. Na fronteira da pele não há polícia, não há controle. Salman Rushdie
O corpo dividido em duas partes fechadas à chave uma na outra, avanço num duplo coração como se fosse ao mesmo tempo num só barco por dois rios. Luís Miguel Nava
escreveu-me um beijo e pediu ao coração independente que não deixasse de bater. prometo que não deixo. Amália, Coração Independente