quinta-feira, 12 de março de 2020
poderia dizer-te que quando chegas com a lua no peito, por dentro do coração rebenta uma anarquia rítmica. o sangue sacode-se em vocábulos e preenche-se no indizível do vazio com gestos de ternura.
poderia dizer-te que as mãos seguem pela água e pelos dias, percorrem o destino dos silêncios sem pressa na espera, sem horário de volta.
acendes o cigarro e eu procuro-te a vontade lenta dos beijos ao longo da pele, do molhado das palavras quando me dizes que me amas.
és a brisa, o mar e o céu onde nascem poemas, quando me sopras do meu lado esquerdo.
e eu sou este destino, com a boca a saber a noite.
queria dizer-te. e não o disse. com o olhar de quem sabe que o ontem é para lembrar com um sorriso, e para desejar na vontade. porque me cantaste doçuras da pele, sem pressas
[vou de encontro ao teu prazer. tu, vens de encontro ao meu]
dizer-te. com as palavras para lá das palavras. que a vida é cheia de escolhas e que a pele serve de céu ao coração.
terça-feira, 10 de março de 2020
segunda-feira, 9 de março de 2020
quando o coração acorda, e a memória também. quando o corpo é a linguagem silenciosa dos verbos conjugados no presente. acreditar que o dia não começa nem acaba, sem te trazer dentro de mim.
[os dedos entorpecidos, que não parecem feitos à medida das palavras que brotam instantes na tua voz / a adivinhar ecos / a tactear sinais.]
o tropeçar em beijos, demasiados, desmesurados. assim parados. abraçados - o coração tresloucado quando me cravas as mãos e fico ancorada em ti, a parir ilhas dos dois, minutos antes de a maré encher.
domingo, 1 de março de 2020
repost
às mães que nos faltam
às mães que nos vão faltar
a solidão e o silêncio - palavras que não te ancoram à realidade. que escrevem naufrágio nas decisões conjugadas. quando ainda há futuro em cada gesto, quando o coração sem verdade se encosta na expressão da noite.
há as marés que nascem do teu olhar, das tuas mãos
{ que sabem a abraços }
e aquietam a pele.
sou daí, desse lugar estranho que é o amor, que é quase apenas um pressentimento do nosso desassossego
{da nossa cumplicidade que é uma mão que se enviesa no limite das palavras}.
entre a saliva e o sangue há, de certeza, muitas viagens sofridas no interior da antecipação, que é ter dos afectos o logro da inocência. o meu corpo e as palavras que dançam por entre silêncios e a solidão, que escrevem um sono que ambiciona o fim
{ somar à vida o sabor do futuro apalavrado }.
e um dia, descobre-se algo dentro de nós, a verdade distorcida de quem somos - e dói - enquanto se suspende a respiração como se a vida já não nos pertencesse, como se o atalho mais curto para o destino se quebre, por fim, na possibilidade do regresso.
o coração, que se detém no que não acontece, quando te trago tão longe daqui.
o pulso, onde os dias se estrangulam em regressos.
as linhas das mãos, onde se escrevem as coisas por nomear.
{ se eu não tivesse esta mania irritante de que tudo pode ser mais simples, e de que o recomeço é o ensaio de coisas por nomear}
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
é súbita, a tonalidade de silêncios. o tempo que fica entre o querer e o estender das mãos. o lugar em que se deixam cair os sonetos desconexos - as mãos, sem saber onde se esconder do prazer, nestes dias a parecer uma enorme sala no debruçar das horas.
de novo, para não ensaiar palavras, há o lugar dos meus dedos em ti - o tempo em que te digo que as mãos se merecem e os lábios se pertencem
[como os olhares]
o tempo por detrás das palavras e que se torna insuportável, os dias a adormecer em maré vazia.
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