sexta-feira, 13 de março de 2020
hoje é sexta-feira. hoje
[por enquanto]
permanecem os estilhaços sob a epiderme.
a cada sexta-feira o medo rima com a ausência e há uma fraqueza a querer ser poema.
trago no peito um coração que sangra nos vazios por preencher.
respiro solidão e responde-me o silêncio, quando a aflição se faz amante da desordem do amor.
hoje é sexta-feira e respiras-me o meu nome. tudo está igual, permanece o toque na pele e o teu cheiro, o teu olhar a transpor-me todos os silêncios
é o pesadelo a desarrumar-se em conforto
é o coração a bambolear-se em saudade
é o pânico feito noite na esperança duma vida em retalhos
é o vento tricotado em amanheceres contínuos
é o corpo dentro do sonho por hoje ser sexta-feira
é o tudo e é o nada.
percorro o meu destino quando que dizes que me amas]
quinta-feira, 12 de março de 2020
poderia dizer-te que quando chegas com a lua no peito, por dentro do coração rebenta uma anarquia rítmica. o sangue sacode-se em vocábulos e preenche-se no indizível do vazio com gestos de ternura.
poderia dizer-te que as mãos seguem pela água e pelos dias, percorrem o destino dos silêncios sem pressa na espera, sem horário de volta.
acendes o cigarro e eu procuro-te a vontade lenta dos beijos ao longo da pele, do molhado das palavras quando me dizes que me amas.
és a brisa, o mar e o céu onde nascem poemas, quando me sopras do meu lado esquerdo.
e eu sou este destino, com a boca a saber a noite.
queria dizer-te. e não o disse. com o olhar de quem sabe que o ontem é para lembrar com um sorriso, e para desejar na vontade. porque me cantaste doçuras da pele, sem pressas
[vou de encontro ao teu prazer. tu, vens de encontro ao meu]
dizer-te. com as palavras para lá das palavras. que a vida é cheia de escolhas e que a pele serve de céu ao coração.
terça-feira, 10 de março de 2020
segunda-feira, 9 de março de 2020
quando o coração acorda, e a memória também. quando o corpo é a linguagem silenciosa dos verbos conjugados no presente. acreditar que o dia não começa nem acaba, sem te trazer dentro de mim.
[os dedos entorpecidos, que não parecem feitos à medida das palavras que brotam instantes na tua voz / a adivinhar ecos / a tactear sinais.]
o tropeçar em beijos, demasiados, desmesurados. assim parados. abraçados - o coração tresloucado quando me cravas as mãos e fico ancorada em ti, a parir ilhas dos dois, minutos antes de a maré encher.
domingo, 1 de março de 2020
repost
às mães que nos faltam
às mães que nos vão faltar
a solidão e o silêncio - palavras que não te ancoram à realidade. que escrevem naufrágio nas decisões conjugadas. quando ainda há futuro em cada gesto, quando o coração sem verdade se encosta na expressão da noite.
há as marés que nascem do teu olhar, das tuas mãos
{ que sabem a abraços }
e aquietam a pele.
sou daí, desse lugar estranho que é o amor, que é quase apenas um pressentimento do nosso desassossego
{da nossa cumplicidade que é uma mão que se enviesa no limite das palavras}.
entre a saliva e o sangue há, de certeza, muitas viagens sofridas no interior da antecipação, que é ter dos afectos o logro da inocência. o meu corpo e as palavras que dançam por entre silêncios e a solidão, que escrevem um sono que ambiciona o fim
{ somar à vida o sabor do futuro apalavrado }.
e um dia, descobre-se algo dentro de nós, a verdade distorcida de quem somos - e dói - enquanto se suspende a respiração como se a vida já não nos pertencesse, como se o atalho mais curto para o destino se quebre, por fim, na possibilidade do regresso.
o coração, que se detém no que não acontece, quando te trago tão longe daqui.
o pulso, onde os dias se estrangulam em regressos.
as linhas das mãos, onde se escrevem as coisas por nomear.
{ se eu não tivesse esta mania irritante de que tudo pode ser mais simples, e de que o recomeço é o ensaio de coisas por nomear}
Subscrever:
Mensagens (Atom)