domingo, 15 de março de 2020

o teu corpo o teu sorriso o meu corpo enroscado no teu sorriso é a nudez coberta de memórias [permitir que o destino nos encontre, nesta noite que me brilha nas mãos] o meu corpo. frágil na ternura do amanhecer, imita as horas em que o vento se escreve na pele. devagarinho esperei que surgisse um poema no planar das aves. é a brisa a escorregar por entre os dedos - todos os caminhos que vagueiam nas minhas mãos, são a imensidão do mar. vou amar-te para sempre, disse, vou esperar que o amanhecer me devolva o exemplo das águas. vou... e ser.

sexta-feira, 13 de março de 2020

a lembrar os silêncios dos minutos amurados, os silêncios a morrer no que se fragmenta. a encontrar a outra metade, a respirar palavras com dicção do cheiro a pele. dói-me o peito. esvazio-me nos segredos de uma pedra, que fala a língua do sussurro [quando os ventos não sabem dos pássaros] "e há restos de ti nas palavras que me povoam..."
hoje é sexta-feira. hoje [por enquanto] permanecem os estilhaços sob a epiderme. a cada sexta-feira o medo rima com a ausência e há uma fraqueza a querer ser poema. trago no peito um coração que sangra nos vazios por preencher. respiro solidão e responde-me o silêncio, quando a aflição se faz amante da desordem do amor. hoje é sexta-feira e respiras-me o meu nome. tudo está igual, permanece o toque na pele e o teu cheiro, o teu olhar a transpor-me todos os silêncios é o pesadelo a desarrumar-se em conforto é o coração a bambolear-se em saudade é o pânico feito noite na esperança duma vida em retalhos é o vento tricotado em amanheceres contínuos é o corpo dentro do sonho por hoje ser sexta-feira é o tudo e é o nada. percorro o meu destino quando que dizes que me amas]

quinta-feira, 12 de março de 2020

poderia dizer-te que quando chegas com a lua no peito, por dentro do coração rebenta uma anarquia rítmica. o sangue sacode-se em vocábulos e preenche-se no indizível do vazio com gestos de ternura. poderia dizer-te que as mãos seguem pela água e pelos dias, percorrem o destino dos silêncios sem pressa na espera, sem horário de volta. acendes o cigarro e eu procuro-te a vontade lenta dos beijos ao longo da pele, do molhado das palavras quando me dizes que me amas. és a brisa, o mar e o céu onde nascem poemas, quando me sopras do meu lado esquerdo. e eu sou este destino, com a boca a saber a noite.
queria dizer-te. e não o disse. com o olhar de quem sabe que o ontem é para lembrar com um sorriso, e para desejar na vontade. porque me cantaste doçuras da pele, sem pressas [vou de encontro ao teu prazer. tu, vens de encontro ao meu] dizer-te. com as palavras para lá das palavras. que a vida é cheia de escolhas e que a pele serve de céu ao coração.

terça-feira, 10 de março de 2020

e eram os teus olhos, [esse lugar estranho, a fazer o coração disparar] eram todas as palavras que te escrevi, que erraram a pele [no avesso da memória] e era o teu sorriso onde queria ficar nua e tua até à ultima gota de sangue.

segunda-feira, 9 de março de 2020

quando o coração acorda, e a memória também. quando o corpo é a linguagem silenciosa dos verbos conjugados no presente. acreditar que o dia não começa nem acaba, sem te trazer dentro de mim. [os dedos entorpecidos, que não parecem feitos à medida das palavras que brotam instantes na tua voz / a adivinhar ecos / a tactear sinais.] o tropeçar em beijos, demasiados, desmesurados. assim parados. abraçados - o coração tresloucado quando me cravas as mãos e fico ancorada em ti, a parir ilhas dos dois, minutos antes de a maré encher.