a mulher que escreve vê o homem que fala - que passa as mãos pelo cabelo, que ritualiza gestos em palavras, a deslizar pelo tempo à margem da pele
[pedaços plenos de lua, a fazer pormenor].
é o saber-nos aí,
na pele carregada do cheiro da memória, do pulsar do eco que nos habita o ser.
nos olhos, no debruçar do silêncio das mãos rendidas ao tacto.
na ânsia da âncora - a espera pelas vagas
[a saber a sal, a saber a mar].
a ponta dos dedos - a demorarem-se no corpo
[a sentir os lábios, pássaros a perturbar a planície].
na boca - a provar-se em mim
[e era assim no princípio, os lábios a saber ao percurso do sangue por de dentro da pele].
a mulher que escreve, rasga a evidência das palavras que estão entre um abraço e o tremer dum corpo, entre um sussurro e o esventrar das pedras, entre o devagar e o devagarinho com que o homem que fala a entra,
a mulher que escreve não sabe como desapertar o peito
enquanto
[lhe]
sobra a espera.
domingo, 14 de janeiro de 2018
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