sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Dez anos depois Dez anos depois continuo a esfregar a lâmpada mágica, mas na tentativa de expurgar este génio de enxofre que tomou conta do meu corpo, há nove, reduzindo-me a um chumbinho perdido nos meandros de uma AK-47 com silenciador. Não acredito em desejos. Já não vejo o meu reflexo na lâmpada mágica, como há dez anos via. Há dez anos achava que. E um ano depois. Um ano depois deixei de achar, passei a perder. Perdi coisas, perdi pessoas, perdi-me a mim. E o que não perdia perdia-se sempre num labirinto qualquer que eu fazia questão de construir com as minhas próprias mãos de minotauro, de animal por sacrificar. Continuo a erguer labirintos e a perder-me neles. Um pouco menos, mas ainda demasiadas vezes para que possa ser salva. Continuo a coser-me com linha de preguiçosa, um fio de Ariadne demasiado comprido que se enleia, enrodilha e parte. Que os pássaros comem, que não tem caminho. Continuo em círculos dentro do meu corpo-jaula sem janela. Sónia Oliveira

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