sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Vasco para Jorge Santos Forreta:  " - pai, tu tens 100 anos?"
Marcelo Testa para mim, ao ver-me tirar a foto: " - mãe, pareces uma senhora velhinha com esse cabelo branco!"

Andamos nós a alimentar esta malta para ouvir isto...
...
..
.
#ninguém_merece
How much do I love you? 
How high is the sky? 
How deep is the ocean? 
How much do I travel, to be where you are?

(Billie Holiday - How Deep Is The Ocean)





há mulheres que carregam por de dentro dos olhos os beijos entre beijos, a morrerem no avesso da espuma dos dias.
as mulheres com a ternura a aflorar à boca, em cada sílaba invisível dum poema feito mar e vento

 [ à margem dos dias, a desaguar no céu inteiro ].

as mulheres e o poema. a trocar de pele nos dias que são alimento - aflorar à boca a subtileza das mãos que se tocam, a desprender-se o músculo do tempo a separar-se.

as mulheres com desertos por dizer 

[ carregados por de dentro da margem do que olham]

sem saber como silenciar a sofreguidão, nem como respirar a pele

quinta-feira, 26 de outubro de 2017


livrai-me, senhor,
de tudo o que fôr
vazio de amor.

Carlos Queiroz
.
uma vez, era uma vez. uma história cheia de regressos. dum corpo aprisionado na nudez, pela inquietação que o percorre em palavras a ecoar na dor.

[ trezentos e sessenta e cinco tempestades, beijos e sonhos guardados nas mãos, a gritar que há toda uma vida para viver ]
 
são estes os dias
em que as marés são como o apressar duma enchente.
em que o coração dissonante me salta pela boca. 
em que fico a observar os ventos que me nascem dos dedos, e lutam para não perder a memória de todos os dias onde te guardo nos lugares felizes.

[tudo sem respirar]

depois passo as mãos pelo cabelo, com os dedos ainda manchados pela ausência.
é quando suspiro fundo e faço novamente pergunta:
então e o amor?

- uma vez. era uma vez -

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

todos os lugares são demasiado longe de ti
e eu quero ficar perto
a entrega era assim - urgente. a cobrir toda a pele de terra fértil. poema que se adensa com o regresso a ti. neste tempo a engolir-nos os dias, no faz e desfaz entre as mãos, lençóis e vida.
as vagas salgadas
as vagas
vagas
e salgadas. no fluxo-refluxo duma maresia tornada possível.
o corpo - promessa. o estirar, o enroscar. e tu
lentamente
lenta
lentamente, entras em mim.
no despertar do corpo nascem palavras - olhos, língua, boca - o sexo húmido na morna inquietude da entrega.
dir-te-ia do rio; nessa maré a entrar mansa. no tempo de nos respirarmos.
dir-te-ia outra vez, do silêncio. de quando estás tão longe para te abraçar. onde fica o espaço entre a carne e o sangue, que se deixa cair
escorrendo apenas
escorrendo
escorre,  na perpendicular da vida.
era uma vez? não, eram uma vezes várias. a esquecer-me do espaço em que o meu corpo se atravessa no teu. quando me fazes falta e não o posso proferir em voz alta.

[ todas as ondas que aqui rebentam, quando me lembro a cabermos na casa da pele, na do olhar ]

a entrega foi assim - urgente, na metáfora do verso que cresce  na tua boca, na minha. a respiração no parapeito da tua boca, formada de uma mescla de palavras.
a sílaba do amor
as raízes afundadas
as raízes
raiz
na pele coberta pela terra húmida e fértil. a iludir o tempo dum poema dito  incapaz.0
os olhos dobrados
os olhos 

[ que queria que combinassem com o mar ]

olho,
a noite do corpo que é
terra
mar
rio
falho de convulsões sobre o que me suspende. um tudo-nada nesta noite dissonante que vem e me traz com ela até ti.
em que quero conseguir-te [ mais ] dentro do poema.