segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

[correr nas tuas veias...]




a noite é um telefone público.
uma voz que não atende.
um corpo que se agita no desassossego do meu.

Al Berto



domingo, 14 de janeiro de 2018

"como se constrói o amor entre almofadas?
(a felicidade, amor, tem a temperatura do teu colo )"




Should I kill myself, or have a cup of coffee?

Albert Camus



"It's the memory of your warm that keeps me alive"


a mulher que escreve vê o homem que fala - que passa as mãos pelo cabelo, que ritualiza gestos em palavras, a deslizar pelo tempo à margem da pele

[pedaços plenos de lua, a fazer pormenor].

é o saber-nos aí,
na pele carregada do cheiro da memória, do pulsar do eco que nos habita o ser.
nos olhos, no debruçar do silêncio das mãos rendidas ao tacto.
na ânsia da âncora - a espera pelas vagas

[a saber a sal, a saber a mar].

a ponta dos dedos - a demorarem-se no corpo

[a sentir os lábios, pássaros a perturbar a planície].

na boca - a provar-se em mim

[e era assim no princípio, os lábios a saber ao percurso do sangue por de dentro da pele].

a mulher que escreve, rasga a evidência das palavras que estão entre um abraço e o tremer dum corpo, entre um sussurro e o esventrar das pedras, entre o devagar e o devagarinho com que o homem que fala a entra,

a mulher que escreve não sabe como desapertar o peito
enquanto

[lhe]

sobra a espera.

sábado, 13 de janeiro de 2018

...É assim o mar. Vou aprendendo com as ondas
a desfazer-me em espuma. Há sempre uma gaivota
que grita quando estou perto, sempre uma asa
entre o céu e o chão da casa. Mas nada me pertence,
nem as palavras com que cimento as horas.
Talvez o amor seja uma pequena diferença entre fusos
horários (...) que só existe
no fundo da pele. Mas aqui onde não sou
o que me funda é a certeza que existes.

Rosa Alice Branco