segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

estou aqui a ser a tua ausência. pesas-me nos lábios como se nascesses de novo de uma metáfora antiga. as mãos abertas 

[as tuas, as minhas],

para conseguir-te mais dentro do vento a atravessar a pele.

[ é a água que sai do corpo e é um rio, é o teu nome, a memória e as horas no desapertar do abraço]

dispo-me de ti numa língua que o meu corpo entende. apago a memória do agora, com as palavras a rasgar até ao osso. és o indicativo do verso que declino por dentro da pele, em fome e sede, no poema que nasce no céu da boca. do peito que fica cheio 

[é difícil o respirar] 

quando cravo os dedos 

[gastos]

 na escrita que irrompe voraz no teu corpo. escrevo a língua dos vocábulos, a sílaba do amor quando o verso cresce nas paredes do poema. para conseguir-te mais dentro - do poema

Um homem diz coisas lindas e românticas sobre a reprodução sexuada nas plantas com flor com coisas como esta:
the calyx is the bride chamber in which the stamina and pistilla solemnize their nuptials
e depois ouve destas coisas:
"a man would not naturally expect to meet with disgusting strokes of obscenity in a system of botany (...) men or philosophers can smile at the nonsense and absurdity of such obscene gibberish; but it is easy to guess what effects it may have upon the young and thoughtless" (Smellie, on The sexes of plants )
ou
claimed it to be "repugnant and immoral"

Johann Georg Siegesbeck (german botanist)

se nem para o Reino Plantae há consenso
na sexualidade, como é que poderá haver entre os humanos?



Pio Vargas
A poesia faz-se contra o esquecimento?
Melhor seria dizer, contra a memória se faz a poesia.

Luis Quintais.


"O menor entre todos os gatos é uma obra-prima"

Leonardo da Vinci

[correr nas tuas veias...]




a noite é um telefone público.
uma voz que não atende.
um corpo que se agita no desassossego do meu.

Al Berto