terça-feira, 30 de janeiro de 2018

não há previsão para um tempo a escrever-se lento. o sobressalto translúcido da palavra medo. quando os dias desaguam no choro, exaustos de exaltação que me vem por não saber o que fazer disto.
devias estar aqui, rente à minha pele, a cabeça encostada no meu peito - a paixão do lado esquerdo.
e com todas as forças que os nossos dedos conseguem. a inclinar os corpos para o voo rasante.

 [tum-tum/tum-tum, o frémito cardíaco acelerado pelo teu sorriso]

viver a ternura na dimensão do poema. o tempo,
o
tempo
a
escrever
-se
lento,
quando sou tudo e nada, quando o amanhã é o futuro onde estaremos mais próximos. quando me lanço na tua pele a saber das horas perdidas e da dor que significam pontos cardeais e azimutes.
não moro nas palavras que não sinto, quando tu vens a entrar no poema e eu passo o teu nome da minha boca para os meus olhos. quando dou a mão ao espaço que corre para nós.
contigo sou completa.
sou
céu
e
rio
sou o choro de todas as palavras que nos chegam fora do tempo. sou o tremor que nos invade o desejo, quando desapareces entre as linhas.

[a boca a escorregar no silêncio. o coração a saltar no peito]

todos os lugares são demasiado longe de ti
e eu quero ficar perto.

A poesia

não diz nada

é


Giorgio Manganelli

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

disseste-me: ainda estás a tempo de fugir. sorri e, abrindo as mãos, ofereci-me a ti.

[amar-te é perder-me, disse-te, é encontrar-me no teu abraço, é desistir dos silêncios que me têm povoado os monossílabos que não dizem mar.]

disseste-me: se respirares o meu nome, transponho todos esses silêncios.

[olhei-te, e a três passos de ti disse-te, com os olhos no vento, que o teu sorriso desagua nas minhas mãos neste amanhecer contínuo.]

disseste-me: não sei onde irei guardar os meus segredos, mas preciso da tua pele para escrever um poema de amor.



sábado, 27 de janeiro de 2018

*Abro-me em árvore quando tenho saudades do verde.*

Casimiro de Brito

Tudo nós,  tudo nós!!! 😱
in: "os Médicos-Veterinários adoptam cada criatura" 😨
Fernão Capelo Gaivota ou AKA " a rolinha do Zé"

na foto: Dr. José Vieira





O lobo comeu o colibri.

Agora, quando abre as mandíbulas,
o canto da avezinha escapa-se-lhe

- o colibri é o lobo
e o lobo o colibri.

Também o colibri pode comer o lobo
porém, ao abrir o bico,

morrerá com o uivo.


Catarina Santiago Costa




Eu, se fosse gajo, escrevia poemas. As mulheres gostam de poetas. Acham que dentro da pele do poeta mora um cabrãozito com emoções. As mulheres gostam de emoções, mesmo que não rimem. Podem ser emoçőes em haiku. E gostam de cabrõezitos, claro.
Às mulheres não bastam as suas emoções. Precisam de ser o motor das emoções dos outros. As mulheres saem em bandos ou solitárias, pelos caminhos, para vampirizar emoções. Se não o fizerem, encarquilham quando o sol se põe. Desfazem-se em pó de esquecimento que é o pior que pode acontecer a uma mulher. É por isso que elas dizem: nunca mais te vais esquecer de mim! E é por isso que elas gostam de pensar que se morarem num poeta e se morarem no poema compram a eternidade.
E um homem até as pode deixar de amar, mas desde que seja com metáforas.

Maria Belo