quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Somos a carne de um fruto atordoado. Somos o dia aparatoso nas escadas, depois navios ancorados carregados de bruma. (...) Quando tens frio, risco-me como fósforo na tua pele ondulada. As tuas pernas afogam-se em poços de água, eu tenho os braços engessados numa parede violenta - porém beijamo-nos na boca lenta da madrugada. O meu nome acordou povoado pelo teu nome. Vasco Gato
Saber o que és, dizer o teu corpo, ouvir-te num breve instante, dizer o que é amor sem o dizer, tirar de mim um poema que te cante; e ver passar-te por entre os dedos o fio de luz que prende os teus olhos, e vê-lo enrolar-se em segredos quando a tua voz o apaga e acende; tocar-te os lábios num fim de verso, ver-te hesitar entre sorriso e mágoa, perguntar se o teu rosto tem reverso, e ter nele uma transparência de água: é o que vejo em ti no cair de véu em que me dás a terra que vale o céu. Nuno Júdice
Emilia Elfe
Ametista & quartzo
Kiss Kiss Bang Bang

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

ter uma guerra por dentro, o teu peito escrito no meu e os meus olhos a guardar segredos
Desvio dos teus ombros o lençol que é feito de ternura amarrotada, da frescura que vem depois do Sol, quando depois do Sol não vem mais nada... Olho a roupa no chão: que tempestade! há restos de ternura pelo meio, como vultos perdidos na cidade em que uma tempestade sobreveio... Começas a vestir-te, lentamente, e é ternura também que vou vestindo, para enfrentar lá fora aquela gente que da nossa ternura anda sorrindo... Mas ninguém sonha a pressa com que nós a despimos assim que estamos sós | David Mourão Ferreira