quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

o teu nome. a memória. e as horas.

devia ser assim que começa um poema. ou um romance - como aquele que conheço quando entras dentro de mim e o meu corpo flutua, acima dos pássaros, acima das mãos. onde as palavras se escrevem sobre o teu despenhar em mim. naquele silêncio desenhado e nu, quando invoco o teu nome e tu és todos os homens do mundo.
eras o vento suspenso na ternura quando me abraçavas, virado para o lado da tranquilidade. por dentro do eco do nosso silêncio. desenhando devagar os vocábulos da palma da tua mão no meu corpo. tens esse sabor das pedras redondas e invisíveis dos rios.

[disse-te: entrelaças as letras na memória das palavras]

é o teu nome - o que fica para além da memória das horas
é um mar imenso que se debruça no horizonte.
são os gestos e sentidos, as palavras que me entram no avesso do corpo

[ as palavras onde me fecho, quando os gestos acontecem, quando as linhas das minhas mãos procuram as tuas ].

não há o nome da pressa, nos sentidos por nós respirados e que são na nossa pele a marca dos dias - dentro da noite que se cruza com a vontade.
entendi porque se morre de desejo, porque se entornam os silêncios nas bocas, porque dor se escreve ausência.
trazes nos olhos o sossego que entardece as minhas emoções. abandonamos o lugar que se teima em se deitar connosco. desenhamos na maresia a distância onde cabem todos os caminhos.

desteço-me no futuro,
       sob(re) a pele,
rompo-me no vento
       que estremece no segredo das árvores,

e há estas manhãs de sonhos dentro das minhas mãos.

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