quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Retrato de mulher Tem de ser à escolha. Tem que mudar para que nada mude. É fácil, impossível, difícil, vale a pena tentar. Olhos tem, se necessário, ora azuis, ora cinzentos, negros, alegres, rasos de água sem motivo. Dorme com ele como qualquer uma, única no mundo. Dá-lhe quatro filhos, nenhum, um. Ingénua, mas a melhor a aconselhar. Frágil, mas carregará o fardo. Não tem a cabeça no lugar, mas há-de ter. Lê Jaspers e revistas femininas, mas constrói uma ponte. Jovem, como sempre jovem, ainda jovem. Segura nas mãos um pardal com a asa partida, o seu próprio dinheiro para uma viagem longa e distante, o cutelo da carne, a compressa e um cálice de vodka. Para onde corre assim, não estará cansada? De maneira nenhuma, um pouco, muito, não importa. Ou o ama, ou teima em amá-lo. Para o bem, para o mal e por amor de Deus. Wislawa Szymborska

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