quinta-feira, 2 de novembro de 2017



(...)
se alguma coisa nasceu para voar
foi o teu coração.

Carlos de Oliveira


este poema começa com um homem 
na sua mesa de trabalho.

[os olhos fechados, mãos na cabeça – a inspirar profundo]

as palavras a surgirem na pele dos amantes, as historias que se esperam do ar, escritas com a saliva azul dos silêncios.

[fecha as mãos com a força de quem esquece que o mundo é de quem o diz]

era o tempo em que te bebia em tragos e dizia o teu nome, com a mesma certeza ao embarcar nos teus olhos.
o teu nome é mar, digo-te;
é rio
e
é
vento. desenhei-o com os meus dedos de arco-íris
era o tempo em que nos reconhecíamos, um no outro, pelo embate contra o nosso sopro e não pela distância que demora a apagar.

este poema que nos conta do homem que escreve, do ser transparente, e que só pode gritar-me por dentro da pele.

meu amor, sabes?
os poemas nascem das mãos que se dão.


da necessidade: correr livre com a felicidade nos pés
eis a distância a que estou - entre amar/te absurdamente e desaguar no descomprometimento
acreditei que acontecias dentro do meu corpo. enquanto o pouso devagar. engulo  as horas quando o corpo se vendeu à estrada. as horas em que pensava em ti e eu era aquele vento amurado na ternura. quando te respirava - deitada.

desisto
{dos silêncios que me apagam devagar o coração virado para o lado da tranquilidade}
sacudo
{ a culpa, quando as histórias adormecem com um sorriso na boca}
tentar
{chegar ao que está ali, no desalinho de todos os nomes, apagados mais perto do impossível}

preciso dum coração novo. a teu lado. no amor
que este está a parar, de tanto bater.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

falo-te: das palavras vindas das vísceras, presas a fios muito finos de silêncio

[adicionava-lhes por entre vozes e dedos, o ar e a água dentro do coração dos pássaros, as histórias reinventadas em gestos e pedaços de amor]

digo-te: agora tenho medo. e tremo por entre lençóis com o cheiro do tempo da tua desordem.
por dentro de mim: o balanço das feridas, quando estou nua perante o mundo, quando silencio a vontade de te ver. quando vês mar e vento eu digo que cheira ao futuro dos dias
é a pele que se rasga. são os rios que se tatuam por entre as linhas das minhas mãos

[ a geografia dos ossos revelados à pele]


estou aqui e serei o teu alimento
estou aqui e quero despedaçar-me
naquilo que amo.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

talvez seja o entardecer dos meus gestos no teu rosto. talvez sejam as minhas emoções a repousar no regresso dos dias, no interior das coisas mais líquidas.
queria tanto dizer-te que aqui se inventa o mar de volta, que se inventa o partir, para um regressar. que não foi por acaso que as noites ficaram mais claras quando me lembro de cada lágrima, de cada abraço, do sonho presente na nudez da insistência do teu corpo no meu.

[ também nos rios a saciar-me a sede, em cada inundação ]

partir, partir, aqui, para ficar. no planar das aves, na fragilidade da existência. no percorrer da água nos dedos. e depois?
é a brisa a escorregar entre os dedos para uma nova manhã...
é a imensidão do mar a asfixiar-me em infinito...

ser [ linha curva]
só   [ último fôlego]
existir.

e a fuga para o sonho seria apagar a memória do agora.


domingo, 29 de outubro de 2017

When there´s no more room in hell the dead will walk among us!