sábado, 4 de novembro de 2017

... tudo começou, em Janeiro - o bater veloz de um coração. a poesia que esvoaça no vento e que se ama. a minha voz a inventar a insignificância da arritmia das palavras.
surgiste e escreveste a tua língua, na minha pele.
disse-te: era uma vez, o respirar dos dias

[ por dentro. no avesso do corpo],

marcados pela vertigem da saudade.
sorriste e abriste os braços

[o tremor de dentro do mundo a escrever as horas nos teus olhos].

disseste-me: era uma vez...

e em silêncio deste um nome ao sonho, a abrigar todas as palavras que revestem a minha imaginação.

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(HardRock Café, Lx, 14-01-2017)

sexta-feira, 3 de novembro de 2017


és o amanhã dos desertos por dizer, nas epigrafes que se escrevem à boca do tempo. dos dias rentes à promessa da palavra mar e de poemas que não permitem outro cheiro que não o teu.
poderia dizer-te tudo, eu sei - por exemplo que as horas cabem nos minutos quando trocamos de pele.
dá-me dias pois tenho a dizer-te um poema de vento e que as lágrimas não são sempre locais de abandono.


quinta-feira, 2 de novembro de 2017



(...)
se alguma coisa nasceu para voar
foi o teu coração.

Carlos de Oliveira


este poema começa com um homem 
na sua mesa de trabalho.

[os olhos fechados, mãos na cabeça – a inspirar profundo]

as palavras a surgirem na pele dos amantes, as historias que se esperam do ar, escritas com a saliva azul dos silêncios.

[fecha as mãos com a força de quem esquece que o mundo é de quem o diz]

era o tempo em que te bebia em tragos e dizia o teu nome, com a mesma certeza ao embarcar nos teus olhos.
o teu nome é mar, digo-te;
é rio
e
é
vento. desenhei-o com os meus dedos de arco-íris
era o tempo em que nos reconhecíamos, um no outro, pelo embate contra o nosso sopro e não pela distância que demora a apagar.

este poema que nos conta do homem que escreve, do ser transparente, e que só pode gritar-me por dentro da pele.

meu amor, sabes?
os poemas nascem das mãos que se dão.


da necessidade: correr livre com a felicidade nos pés
eis a distância a que estou - entre amar/te absurdamente e desaguar no descomprometimento
acreditei que acontecias dentro do meu corpo. enquanto o pouso devagar. engulo  as horas quando o corpo se vendeu à estrada. as horas em que pensava em ti e eu era aquele vento amurado na ternura. quando te respirava - deitada.

desisto
{dos silêncios que me apagam devagar o coração virado para o lado da tranquilidade}
sacudo
{ a culpa, quando as histórias adormecem com um sorriso na boca}
tentar
{chegar ao que está ali, no desalinho de todos os nomes, apagados mais perto do impossível}

preciso dum coração novo. a teu lado. no amor
que este está a parar, de tanto bater.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

falo-te: das palavras vindas das vísceras, presas a fios muito finos de silêncio

[adicionava-lhes por entre vozes e dedos, o ar e a água dentro do coração dos pássaros, as histórias reinventadas em gestos e pedaços de amor]

digo-te: agora tenho medo. e tremo por entre lençóis com o cheiro do tempo da tua desordem.
por dentro de mim: o balanço das feridas, quando estou nua perante o mundo, quando silencio a vontade de te ver. quando vês mar e vento eu digo que cheira ao futuro dos dias
é a pele que se rasga. são os rios que se tatuam por entre as linhas das minhas mãos

[ a geografia dos ossos revelados à pele]


estou aqui e serei o teu alimento
estou aqui e quero despedaçar-me
naquilo que amo.