domingo, 5 de novembro de 2017

entre o sempre e o agora, a palavra (a transbordar de ti) mordida entre os lençóis.
é a vontade, a vontade do correr da água, do desvanecer do corpo que se ergue, da boca que se leva a outra boca, do tempo que jurava voar quando solto dos teus lábios.
entre o sempre e o agora, o porém, que nos traz hoje os dias quentes da procura, os dias em que nos revisitamos com uma nitidez que nos fere como fogo.
e de repente já não sei se somos nós que olhamos os afectos enraizados, se é o mundo que se propaga no teu abraço que é onde me reconheço.

e abraçámos os dedos - memórias de tempos de silêncio.

sábado, 4 de novembro de 2017

... tudo começou, em Janeiro - o bater veloz de um coração. a poesia que esvoaça no vento e que se ama. a minha voz a inventar a insignificância da arritmia das palavras.
surgiste e escreveste a tua língua, na minha pele.
disse-te: era uma vez, o respirar dos dias

[ por dentro. no avesso do corpo],

marcados pela vertigem da saudade.
sorriste e abriste os braços

[o tremor de dentro do mundo a escrever as horas nos teus olhos].

disseste-me: era uma vez...

e em silêncio deste um nome ao sonho, a abrigar todas as palavras que revestem a minha imaginação.

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(HardRock Café, Lx, 14-01-2017)

sexta-feira, 3 de novembro de 2017


és o amanhã dos desertos por dizer, nas epigrafes que se escrevem à boca do tempo. dos dias rentes à promessa da palavra mar e de poemas que não permitem outro cheiro que não o teu.
poderia dizer-te tudo, eu sei - por exemplo que as horas cabem nos minutos quando trocamos de pele.
dá-me dias pois tenho a dizer-te um poema de vento e que as lágrimas não são sempre locais de abandono.


quinta-feira, 2 de novembro de 2017



(...)
se alguma coisa nasceu para voar
foi o teu coração.

Carlos de Oliveira


este poema começa com um homem 
na sua mesa de trabalho.

[os olhos fechados, mãos na cabeça – a inspirar profundo]

as palavras a surgirem na pele dos amantes, as historias que se esperam do ar, escritas com a saliva azul dos silêncios.

[fecha as mãos com a força de quem esquece que o mundo é de quem o diz]

era o tempo em que te bebia em tragos e dizia o teu nome, com a mesma certeza ao embarcar nos teus olhos.
o teu nome é mar, digo-te;
é rio
e
é
vento. desenhei-o com os meus dedos de arco-íris
era o tempo em que nos reconhecíamos, um no outro, pelo embate contra o nosso sopro e não pela distância que demora a apagar.

este poema que nos conta do homem que escreve, do ser transparente, e que só pode gritar-me por dentro da pele.

meu amor, sabes?
os poemas nascem das mãos que se dão.


da necessidade: correr livre com a felicidade nos pés
eis a distância a que estou - entre amar/te absurdamente e desaguar no descomprometimento
acreditei que acontecias dentro do meu corpo. enquanto o pouso devagar. engulo  as horas quando o corpo se vendeu à estrada. as horas em que pensava em ti e eu era aquele vento amurado na ternura. quando te respirava - deitada.

desisto
{dos silêncios que me apagam devagar o coração virado para o lado da tranquilidade}
sacudo
{ a culpa, quando as histórias adormecem com um sorriso na boca}
tentar
{chegar ao que está ali, no desalinho de todos os nomes, apagados mais perto do impossível}

preciso dum coração novo. a teu lado. no amor
que este está a parar, de tanto bater.