terça-feira, 14 de novembro de 2017




1983 - É p'ra amanhã
enraizar a espera do calor dum corpo inteiro, que cresce em direcção à tua ausência. todos os meus, todos os teus sonhos. é a vida a escoar-se pelos poros da pele, e eu sem mãos para a conseguir agarrar. tenho o teu nome. tenho o teu nome e as histórias marcadas pelo silêncio na respiração. o silêncio que me rasga com unhas famintas, quando não estás.

e me deixa suspensa entre um espaço e uma virgula.


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

É a minha pele que se diz de alguém que guarda. do sentimento abraçado pela boca que beija, pela mão que toca.
são os corpos entrelaçados, 
transbordados de sal, plenos da vida que se adivinha em cada vontade a nascer de novo.

sábado, 11 de novembro de 2017


não moro nas palavras que não sinto, quando tu vens a entrar no poema e eu passo o teu nome da minha boca para os meus olhos. quando dou a mão ao espaço que corre para nós.
contigo sou completa. sou céu e rio. sou o choro de todas as palavras que nos chegam fora do tempo. sou o tremor que nos invade o desejo, quando desapareces entre as linhas.

[a boca a escorregar no silêncio. o coração a saltar no peito]

todos os lugares são demasiado longe de ti
e eu quero ficar perto


( a Bica é linda )
abraçar as noites que entram por dentro da memória. rascunhos de mim, incompletos, atados ao inimaginável da sombra do que lhes escapa. a lonjura da pele permeável onde habitamos há demasiados séculos.

[saber como respirar, saber como silenciar o silêncio]

demora-se (n)a queda
desenha-se (n)a partida ao peito
descose-se (n)as noites não dormidas

[saber dos peitos que se confundem, saber dos gemidos que se desalinham]

trazer asas nos bolsos sempre que fecho os olhos e falar-te de voar. desabituar-me do penoso exercício do ensaio de palavras que escorrem em ternura. verter nas veias lágrimas, a memória dos teus lábios que sobrevive. acelerar o batimento dos dias enquanto se vendem os medos

[saber como silenciar a sofreguidão, saber como respirar a pele]

desengane-se (n)a vontade de inscrever nas veias
decomponha-se (n)o desejo de parar o rumor incessante do mar
desvanece-se (n)a pertença suspensa no fio do momento

[saber aprender a rendição do coração, saber esperar a deriva do corpo]

soletrar que sem ti as noites permanecem muito para além da escuridão, muito para além da palavra, do respirar do tempo, do beijar do silêncio no coração.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

há dias em que se respira no avesso de um voo. em que o coração gira [entre mãos], enquanto se desconstrói o eu - na pele - à luz.
há dias em que uma mão invisível toma posse dos pulmões. e respirar é um tempo de silêncio.
há dias em que invento maneiras simples de te escrever. de estender o braço e ficar o teu corpo ao alcance da mão. como se cada gesto fosse uma história à espera de ser inventada.
há tempos de procura. do tempo em que rir era um impulso - como mergulhar- nas veias onde corre um mar imenso. das palavras por desenhar nos dias de ausência
e hoje é também isto.a casa que são as minhas mãos nos teus cabelos. as palavras que juravam voar quando soltas dos teus dedos. que se guardam na saudade que marca as linhas do rosto.
há dias em que não há lá fora
há, aqui. um tempo que se fez de novo lá atrás. onde corremos ao lado do vento
e se beija um poema no silêncio

(e só quem lá esteve entenderá)