sexta-feira, 17 de novembro de 2017

foi de repente. nasceu de um vazio o que nada importa, como se tudo o que existe se suspendesse na tua boca. nasceu de fora das coisas para dentro da memória. como se violentamente o amor nos arrancasse o medo. o amor para lembrar o amor e como ele tem feito sentido e, sem enfraquecer, nos consumisse o ar. 
assim nascem as cores, assim saboreio poesias e mergulho no desconhecido. recalculo rotas aleatórias, ansiosa pela liberdade das margens do horizonte.
mas foi de repente. nasceu assim, dum olhar que volta, em dias de pássaros, quando espero os teus beijos, que me visitam as manhãs.
    disse-te: tudo é assim, nos cheiros que são sombras quando a ausência rima no final do dia e o sorriso adormece a querer ser poema.
     é verdade: guardo a tristeza nas horas voláteis da pele adormecida em sorrisos tímidos e palavras prenhes de silêncios anónimos.
     demoro: entre a fraqueza dos dias a descer pelas margens da ternura, o riso aprendido entre a fala e a importância dos dedos. 

[os corpos despidos da razão a fugir pela porta do fundo do coração - demoro entre duas memórias que não sabem digerir a leveza do amor.] 

abraça-me, por favor


quinta-feira, 16 de novembro de 2017

não me peças para explicar que há um caminho e também uma espera - depois das horas, antes do tempo. não vou explicar

 [ por favor, não me peças para explicar]

que te (re)conheco no mundo que acontece dentro dos versos. em que a distância entre as palavras é lavrada na pele das mãos - tu sabias - e disseste-me- os ecos deitam-se nos cantos e acontecem em simultâneo.

[a noite é um país habitado onde se desenham lugares menos solitários, onde se prolonga a inquietação para além do azul]

e eu sei que as minhas mãos deveriam adormecer nas tuas, no fim de todas as coisas, no fim de todos os gestos.


quarta-feira, 15 de novembro de 2017


delicioso
 (Adília Lopes)

nas tuas mãos, nasce um poema todas as manhãs no lugar do meu corpo, dos lugares que se soltam da minha pele.
é o tempo que se suspende no instante do enredar das mãos, o tempo de dizer-te o nome do medo, de te pedir que me abrigues no teu lado esquerdo.

terça-feira, 14 de novembro de 2017




1983 - É p'ra amanhã
enraizar a espera do calor dum corpo inteiro, que cresce em direcção à tua ausência. todos os meus, todos os teus sonhos. é a vida a escoar-se pelos poros da pele, e eu sem mãos para a conseguir agarrar. tenho o teu nome. tenho o teu nome e as histórias marcadas pelo silêncio na respiração. o silêncio que me rasga com unhas famintas, quando não estás.

e me deixa suspensa entre um espaço e uma virgula.