quarta-feira, 29 de novembro de 2017

exercício

gostava de te

ver

dentro

gostava de ver-te dentro

dos meus olhos

a ver-te

gostavas

nos meus olhos

a

ver

dentro

e n t r o

thisthecityinside



Estendeu os braços carinhosamente
e avançou, de mãos abertas
e cheias de ternura.
- És tu Ernesto, meu amor?
Não era. Era o Bernardo.
Isso não os impediu
de terem muitos meninos
e não serem felizes.
É o que faz a miopia.

Mário-Henrique Leiria






Dou-vos um mandamento novo:
(auto)polinizai-vos.

Joana Serrado, in Tratado de Botânica


Fill your heart with secrets but the only way to read them is if you break your heart (every couple should get one and fill it with the little things they love about each other. and then if they’re fighting throw it at a wall and read all the little things that come out).





uma vez, era uma vez uma história cheia de regressos. dum corpo aprisionado na nudez, pela inquietação que o percorre em palavras que ecoam na dor. trezentos e sessenta e cinco tempestades, beijos e sonhos guardados nas mãos, a gritar que há toda uma vida para viver.

e disseste-me tu, Regina Gomes Catarino  : *... trezentos e sessenta e cinco ocasos onde os olhos se despedem do sol com um "talvez amanhã" antes de adormecer na ausência.*

e eu: *é o "até já", com as manhãs douradas a romper de mãos frias e o beijo alojado [solitário] nos lençóis.*

e continuaste, Regina:  *é o "será hoje?" das manhãs cinzentas em que só a chuva toca nos lábios vazios e as gotas escorrendo na face disfarçam uma lágrima solitária, rebelde.*




terça-feira, 28 de novembro de 2017




era uma vez um calor que se transbordou

um rio a correr dentro da minha casa, 
o arrepio no corpo e na vida

súbito
o gesto, o grito
as ondulações que escorrem 
em 
que 
te 
creio 
semente

era uma vez
quando te queria dizer desta certeza

    e depois mil
        de uma vez


sabes, tenho tanto para dizer. é o meu corpo coração que entre uma batida e a outra altera o ritmo. deixou de aprender a respirar o sangue, de emoção em emoção nas veias mal dormidas. sabe o seu caminho, o turbilhão das extrassístoles a castigarem o compasso da monotonia. 
sabes, a pele que o veste com os  silêncios desmesurados que se instalam,  tem um mundo a rodar para dentro - a rota redireccionada,  o rumo preciso na mesma medida do comprimento de onda do que é suposto. 
Amo-te.  alimento-me da solidão que se abraça em desígnios.  estou presa por uma fímbria invisível a um casulo de vulnerabilidade.  a felicidade é no regresso dos dias,  percorrer com os meus dedos dormentes, pequenos precipícios da tua pele - milímetro  a milímetro.
abraçar o destino e esperar o teu beijo,  no exacto momento entre o passado e o futuro.