sexta-feira, 1 de março de 2019

🎵🎶É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho É um caco de vidro, é a vida, é o sol É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol É peroba do campo, é o nó da madeira Caingá candeia, é o Matita-Pereira É madeira de vento, tombo da ribanceira É o mistério profundo, é o queira ou não queira É o vento ventando, é o fim da ladeira É a viga, é o vão, festa da cumeeira É a chuva chovendo, é conversa ribeira Das águas de março, é o fim da canseira É o pé, é o chão, é a marcha estradeira Passarinho na mão, pedra de atiradeira É uma ave no céu, é uma ave no chão É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão É o fundo do poço, é o fim do caminho No rosto um desgosto, é um pouco sozinho É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto É um pingo pingando, é uma conta, é um conto É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando É a luz da manhã, é o tijolo chegando É a lenha, é o dia, é o fim da picada É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada É o projeto da casa, é o corpo na cama É o carro enguiçado, é a lama, é a lama É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã É um resto de mato na luz da manhã São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração É uma cobra é um pau, é João é José É um espinho na mão, é um corte no pé São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho É um passo, é uma ponte, é um sapo é uma rã É um belo horizonte, é uma febre terçã São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração Pau, pedra, fim, caminho Resto, toco, pouco, sozinho Caco, vidro, vida, oh, noite, morte Passo, anzol São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração 🎶🎵 Tom Jobim

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Retrato de mulher Tem de ser à escolha. Tem que mudar para que nada mude. É fácil, impossível, difícil, vale a pena tentar. Olhos tem, se necessário, ora azuis, ora cinzentos, negros, alegres, rasos de água sem motivo. Dorme com ele como qualquer uma, única no mundo. Dá-lhe quatro filhos, nenhum, um. Ingénua, mas a melhor a aconselhar. Frágil, mas carregará o fardo. Não tem a cabeça no lugar, mas há-de ter. Lê Jaspers e revistas femininas, mas constrói uma ponte. Jovem, como sempre jovem, ainda jovem. Segura nas mãos um pardal com a asa partida, o seu próprio dinheiro para uma viagem longa e distante, o cutelo da carne, a compressa e um cálice de vodka. Para onde corre assim, não estará cansada? De maneira nenhuma, um pouco, muito, não importa. Ou o ama, ou teima em amá-lo. Para o bem, para o mal e por amor de Deus. Wislawa Szymborska
A minha memória não é uma fonte de sofrimento. Certas partes são como uma loja de penhores, outras como um aquário, outras como uma despensa. Julgo que há um sítio onde a memória se distorce como as imagens nos espelhos de feira e é essa a área que mais me interessa. Tom Waits Nocturnos
Sugestão do dia: Waffles de leite de aveia Ingredientes: - 2 chávenas (chá) de farinha de trigo - 3 colheres (sopa) de açúcar - 3 colheres (sopa) de fermento em pó - 1 colher de (chá) de sal - 2 chávenas (chá) de leite de aveia - 1 colher (chá) de essência de baunilha - 3 colheres (sopa) de óleo Modo de preparo: 1. Misture todos os ingredientes secos, menos o fermento em pó. 2. Adicione o leite de aveia e o óleo e misture bem. 3. Coloque o fermento em pó e misture novamente, por 3 minutos, até que fique bem encorpado. 4. Aqueça a máquina de waffles. 5. Coloque um pouco de massa e siga as instruções do fabricante. Rendimento: 8-10 waffles (irá depender do tamanho da sua máquina).
trago-te a palavra sim escondida entre os dedos. Lembra-te da luz teimosa e certa com que os dedos podem esconder palavras. Esconder é só mostrar o infinito Manuel Cintra
Norwegian Jensen & Skodvin's entry for Vals Luxury Hotel in Switzerland.
Doeu-me, mas não parei. Li-te até os meus olhos se esconderem. E vi-te. Via-te sempre na tua escrita. Não é um lugar comum nem é como se tivesse sido ontem. Fica já por aqui o assunto antes que resvale porque acabei de me lembrar de uma coisa e esta conversa ia para a maldade para aquilo para a risota. E hoje não estou a pender muito para ela, a risota, desculpa. Sei lá porque é que estou a pedir desculpa, que pergunta. Olha, por causa do delito vital que me traz corcovada, deste erro de se ser triste. Sou, e depois? Bom, é engraçado, agora que penso nisso: nunca fui triste ao pé de ti. Sorriso. Era curiosa, contente, de bem, assustada, meio-medrosa, mas não me recordo de tristesse. Ah, e desiludida, sim, por duas vezes, mas não sei se contam porque não estávamos ao pé um do outro, estávamos de cada lado do messenger. A desilusão foi minha, de mim. Da vez em que te zangaste comigo, lembras-te? Não te zangaste assim como quem estava mau comigo mas de mal comigo, e tiveste um bocado de razão, toda não, mas um bom bocado. Estou quase a redimir-me dessa, tu sabes que sim (sabes?). Passaram quantos anos dessa discussão? Quatro. Cinco. Três. Não sei. O tempo nunca medra. Houve a segunda vez, pois houve, sou exímia a desiludir-me comigo e a sabê-lo no exacto instante, para saborear tudo duma vez. Fiquei com o sol todo na recordação da pele, que é para aprender. Está o dito pelo não dito, para guardar segredos que esgravatem nas horas. Não tenho certeza de ser isto o que fazem as pessoas desconsoladas. Sou cheia das datas, e das cenas, guardo tudo. Ontem fiz tanta palermice, havias de ver. Começando por estar "incompreensivelmente" triste até ao sono imenso que bebi para dentro de não-sei-quantos cafés a tentar esconder essa tristesse. Cena marada. Isto agora ia bem era a escrever a negrito, em azul. Claro. Mas não posso, não mo permito. Sabes o que fiz ontem? Pois. Nada de mais, coisa habituée, afinal. Olha, moço, funciono assim, não me levas a mal, sabes que seria um lapso da mecânica. Quando dei conta do que a minha terceira cabeça ia fazer, e depois de a inverter para evitar a todo custo ferir sensibilidades legítimas, amanhei a tal desculpa que procurei o dia todo. E entrei a ser assim como sou: profundamente triste e desiludida e a rir. Voilá. Todo este estado a negrito, em azul. Fui ler-te, descansada, a magoar-me intensamente. Chupei feridas nos teus poemas. E engoli de lá tudo o que havia de nobre em ti. Com o sol ainda, todo, na invenção da minha pele. ~ azul, Carlos Veríssimo, escrituras, fotografia, in memoriam,