sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

às vezes não sei o que te dizer e fico com as palavras guardadas cá dentro. como se ao dizê-las fosse quebrá-las, roubar-lhes a grandiosidade. como se a minha noite permanecesse muito para além da escuridão, muito para além do dia, muito para além da vida.

às vezes há coisas que não digo, mas que nunca esqueço: a casa que são as tuas mãos e o teu corpo, a tua mão na minha mão, os teus olhos a chamarem-me, o teu sorriso a invadir-me. o teu abraço - sonho sempre com o teu abraço. e não me canso. do teu peito no meu peito a atear-me as cicatrizes. o meu peito a tatuar-se no teu.

perguntas em que é que penso e eu digo que penso em nada. faço do meu corpo um espaço de silêncio, como se o nada abarcasse o pensamento de quem ama. como se fosse maior do que o nada em que o mundo se torna. esta estranha raiz que cresce em direcção à tua ausência - não quero dizer. não quero dizer todas as imagens, ou todos os tons da tua voz que ainda não sei como escrever. não sei escrever as tuas mãos, não posso escrever as tuas mãos. não posso escrever o beijo. não sei escrever o abraço.

conseguirei estancar esta agonia que me faz sofrer constelações?

(tenho a vida intermitente do voo sob a palavra)

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